segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Música para aturar os amigos



Não, esta Feist não abandonou, como Pedro, o CDS-PP nem apoiou na corrida o malogrado Santana. Esta Feist não vai também participar em nenhum musical cheio de luzinhas, elevadores e lantejoulas com os irmãos Nuno e Henrique e aquela rapariga de cabelo azul chamada Wanda (Stuart). Esta Feist limitou-se a gravar um álbum chamado Let it Die, depois de ter andado a cantarolar com os Broken Social Scene e de ter feito «coisas bonitas» (no sentido arturjorgeano do termo) no último disco dos Kings of Convenience. A canadiana Leslie podia, no entanto, ser a ovelha ranhosa da família Feist. A prima meia marada que os clãs têm de aturar na ceia de Natal.
Recuperemos os vários tipos de música que existem no mercado. Há, por exemplo, a música de elevador, a música de cama, a música de enterro, a música de comício, a música de strip chunga da Baixa da Banheira, a música que os vizinhos gostam de passar no domingo de manhã, a música que se ouve quando se vai fazer uma ressonância magnética, a música de génerico de programa sobre ciclismo. E ainda há a música para aturar os amigos (sim, aqui “aturar” é escrito com toda a ternura possível). Aquele tipo que serve mais para criar ambiente e ajudar à conversa solta e divertida do que para ser seguida de ouvidos - e caderninho de apontamentos - abertos. Ora, é isso mesmo que fez a nossa Feist. Música para ouvir quando temos amigos a jantar lá em casa. Em vez de Clemente, Anjos, Thievery Corporation ou Richard Clayderman, põe-se a tocar Feist. E a vida sorri.
Porque a verdade é que o disquito, tão aclamado pelas recensões dos Prados Coelho lá da terra deles (sei lá, Inglaterra, França, Lituânia, Chelas), não traz nenhuma canção memorável - marcante. Feist é, acima de tudo, a sua voz. Uma voz ainda à procura de um tom. Que ora se afirma no seu suave virtuosismo ora se transfigura em vários registos conhecidos. Temos a Feist Lisa Ekdahl, a Feist Stina Nordenstam, a Feist Fairground attraction ou mesmo a Feist PJ-Harvey (em When I Was a Young Girl). Sim, uma edição do Chuva de Estrelas organizada pela Sónia Fertuzinhos.
Sejamos justos: o disco ouve-se bem. E, para além de um outro original agradável, como o saltitante Mushaboom (bom para pôr a tocar quando os amigos são macambúzios e gostam de citar César das Neves) e Let it Die (ideal para o fim de noite, quando o Martini já se acabou e as vozes ficam tão arrastadas como os passos), traz algumas simpáticas versões de temas de Ron Sexsmith (Secret Heart) e dos Bee Gees (Inside and Out) – recomendável para levar para o escurinho da despensa aquela amiga ou aquele amigo, digamos, mais coloridos.
Diz-se que em princípios de Maio a menina vem cá tocar a Gaia e a Lisboa. Óptima altura para convidar amigos e amigalhaços para ir em matilha aos concertos. Estou a ver o filme: a Leslie sobe ao palco, começa a cantar a primeira musiqueta e a malta, alegre e galhofeira, faz um daqueles piqueniques à antiga. NCS (texto publicado ontem no jornal A Capital)

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Os dez melhores discos do mundo #2

João Gilberto – Amoroso/Brasil (1978/81)



Miles Davis terá dito um dia, "he could read a newspaper and sound good". Talvez por isso, há muito quem veja em João Gilberto o melhor cantor do mundo. Pela musicalidade e por ter inventado uma forma de cantar (e de tocar no violão) única e que, desde o ano de 1958, quando cantou pela primeira vez o "chega de saudade", muitos têm imitado. O elogio da simplicidade, a escolha do caminho mais claro para chegar à música perfeita, à forma de cantar perfeita. "Melhor que o silêncio só João", cantou o Caetano - confirmando a mesma musicalidade quase absoluta de João Gilberto que Miles Davis havia encontrado.
Tudo começou no final dos anos cinquenta, ou pelo menos foi aí que tudo terá mudado. A invenção do modo de cantar baixo, quase sem vibrato, inspirando-se no mito do "cool", Chet Baker, a batida simplificada, feita no violão, depurando o samba-canção. Tudo isto, mais as sílabas soletradas de modo perfeito, abriu um mondo novo. Esse é, mais ou menos, o essencial da história da bossa-nova. Mas estes dois discos - em cd só conheço a edição em que vêm juntos - já estão para além disso. Estão para além disso, mas ainda partem daí. Antes de mais, o Amoroso. Nele está o João Gilberto que já inventou um mundo novo, passou pelo novo mundo e estará a regressar do "flirt". Covers de vários song-books (´s wonderful, besame mucho ou estate num italiano quase irreconhecível), apropriados e não interpretados ou cantados. Mais umas quantas músicas brasileiras (a melhor versão do wave que conheço) num disco em que o que brilha é a voz, mesmo sobre uma camada de arranjos e orquestrações mais "avançadas", de Claus Ogerman. Ou melhor, aquele modo de cantar e de tocar violão em que a voz é apenas um pretexto para chegar à música destilada. Não sei quantas vezes terei já ouvido este disco, mas faço-o e não consigo nunca encontrar ali nada a mais ou a menos. As coisas no sítio certo, arrumadas, fruto da maturação de quem terá pensado vezes e vezes sem conta antes de ali chegar. Certamente fruto da intransigência (e da exigência) que é característica de João Gilberto, Amoroso é um exemplo acabado de como a sensibilidade absoluta pode ser alcançada pelos caminhos da 'cosa mentale'. Há, por isso, poucos discos simultaneamente tão emocionantes e tão racionais.
Já Brasil é um óptimo disco. Mas está longe dos "dez melhores do mundo". Contudo, funciona muito bem como complemento a Amoroso e homenagem a João Gilberto (que canta acompanhado pelos "novos baianos", Caetano, Bethânia e Gil). E isso é toda uma outra história. PAS

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Os malucos do sonho



Se os Mercury Rev tivessem um programa na SIC em horário nobre seria chamado Os Malucos do Sonho. O nome é piroso, eu sei, mas é o que melhor se adequaria a um talk-show conduzido por estes americanos bizarros. É que o som dos Mercury Rev faz lembrar o universo onírico de Tim Burton (outro ‘grande maluco’, que podia ser o convidado especial de todas as emissões), cheio de fantasmas ora ameaçadores ora ternos e vulneráveis.
Utilizemos o método comparativo, tão do agrado da Crítica de Música - e até de mim próprio. Os Mercury Rev são uma espécie de Supertramp depois de terem ingerido uma série de ácidos e de cogumelos alucinogénios. O que não quer dizer que se demitam de procurar a melodia e a arrumação musical. Pelo contrário. Como a malta já está nestas andanças desde o fim dos anos oitenta, apesar das toneladas de dopping, não perde a compostura. O som-tipo dos Mercury (deixem-me tratá-los por tu) é, no momento, a fusão entre a vozinha frágil de Jonathan Donahue, género desenho animado, e uma data de sons mais ou menos etéreos (se estivesse num debate político apresentaria o gráfico com as barras: 41% de voz frágil, 52% de sons mágicos e 7% de vontade de ganhar dinheiro) metodicamente coordenados entre si.
Sabe-se que depois de Deserter’s Songs (1998) e de All is Dream (2001), os Mercury Rev, outrora bastante barulhentos e esquizofrénicos, tornaram-se num grupo canónico, que convém sempre citar nos salões de chá da música alternativa. The Secret Migration, apesar do título, deixou-os no mesmo sítio. Em relação aos dois álbuns anteriores só tem mesmo uma novidade: a capa. A capa podia ser o rótulo de um perfume barato comprado numa loja de chineses do Martim Moniz. Mas não deixa de combinar bem com o ambiente do disco – bastante distante daqueles que se encontram na maior parte dos álbuns sentimentais e urbanóides da maior parte da música dita indie.
Secret for a Song, o tema que abre o álbum, é quase uma versão épica de Tides of the Moon, de All is Dream. Uma canção cheia de força, atravessada pela energia da bateria (como se fosse o som das entranhas da Terra) e pela beleza dos versos do refrão: «I’ll tell you a secret, I’ll sell you a secret for a song». Diamonds e Black Forest (Lorelei) ficam no ouvido pelo seu mistério e estranheza, a fazer lembrar a experiência de Harold Budd com os Zeitgeist, no memorável She is a Phantom. O universo, esse, é feito de aranhas, dragões voadores, cavalos, montanhas, lagos, arvoredo. Cuidadinho, pois.
In The Wilderness, First – Time Mother’s Joy (flying) e Down Poured the Heavens podiam ter constado de Deserter´s Songs. A gente começa a ouvir estas cançonetas e tem vontade de «passear contigo, amar e ser feliz». In the Wilderness transforma-se depois numa canção pop, para cantar no Verão. In a Funny Way repete essa fórmula de fazer bater o pezinho. Arise, marcada pelo baixo, é a mais psicadélica de todas - não me admiraria se tivesse contado com a participação dos Spiritualized, de Jason ‘Spaceman’. E Moving On é um diamante perdido, com um bonito poeminha de esperança para o mundo dos homens. Sim, porque os Mercury Rev nunca deixam de falar de relações humanas. Só que, em vez de o fazerem num T-2 em Algés, fazem-no num universo imaginoso e fantástico. NCS
(texto publicado ontem no jornal A Capital)

sábado, fevereiro 19, 2005

People have the power

I was dreaming in my dreaming
of an aspect bright and fair
and my sleeping it was broken
but my dream it lingered near
in the form of shining valleys
where the pure air recognized
and my senses newly opened
I awakened to the cry
that the people / have the power
to redeem / the work of fools
upon the meek / the graces shower
it's decreed / the people rule

The people have the power
The people have the power
(...)
Patti Smith


- PAS

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Os Virgens Suicidas



A primeira vontade que dá é a de ir até ao Coliseu dos Recreios no dia 10 de Março só para esbofetear a carinha pré-púbere do vocalista Tom Chaplin. Só para o interromper quando está a cantar de olhos fechados, com todo o sentimento do mundo, o Somewhere Only We Know (lá, lá, lá), e gritar-lhe ao ouvido: “Ó meu menino, deixa o leitinho e as angústias neo-românticas de trazer por casa e vem lá beber uma ginginha com o pessoal!”.
Essa é a primeira vontade. A segunda é a de lhe perguntar como é que ele, Tim Rice e Richard Hughes, os outros rapazes dos Keane, foram capazes de misturar o som dos Travis e dos Gene com arranjos e melodias à festival da canção (tipo canções do Chipre). A terceira é a de dizer aos cachopos que a ideia do voto de castidade é um erro que lhes vai custar caro pela vida fora. A quarta é a de acabar o sermão com um stage diving sobre a corja de adolescentes aí presente.
É sabido: os Keane são, ao lado dos escoceses Franz Ferdinand, a grande revelação pop britânica de 2004. Acabam de ganhar, imagine-se, dois Brit Awards na categoria “Melhor Revelação Britânica” e “Melhor Álbum Britânico”. Se quisermos ir por aí, os Keane são a versão assexuada dos Franz Ferdinand. Os Franz Ferdinand têm garra, atitude, criatividade. Os Keane têm pieguice. Os Franz Ferdinand têm uma, aliás, duas guitarras furibundas. Os Keane têm um piano lamechas. Os Franz Ferdinand são um grupo de artistas que ocupou uma mansão decadente em Palmela. Os Keane são um grupo de jovens com perfil de escuteiros que se junta nas noites de quinta-feira numa salinha da igreja de Arroios.
O nome do seu único álbum diz tudo sobre a idade real e emocional destes meninos de coro: Hopes and Fears. Traz 11 temas (ou faixas, se passarem numa rádio de província). 11 poeminhas sobre este mundo lixado em que vivemos, este mundo de sombras e luzes, em que um homem, sabem, às vezes sente-se só, perdido e abandonado. Tenham pena.
A questão que se coloca é tão simplesmente esta: todos nós já passámos por essa fase. A menos que tenhamos 16 anos e andemos a ler Keats e Shelley pelos bosques de Sintra. Os Keane fazem pop teen, com emoções teen, com uma pose teen - basta assistir à estética bucólica/lírica do videoclip da música que abre o álbum para perceber o imaginário. Pop teen para quem gosta de ler Eugénio de Andrade.
Sim, todos nós já quisemos ter uma banda com os amigos do liceu para mostrarmos o quão somos sensíveis e talentosos (e é de admitir que, aqui e ali, há bonitas cançonetas e melodias). Todos nós já quisemos cantar canções como This is the Last Time, todos nós já quisemos saltar na pradaria a repetir versos como «This is the last time/ That I will show my face/ One last tender lie/ And then I’m out of this place». Todos nós já fomos para os rochedos lamentarmo-nos pelo facto de toda a gente estar a mudar - menos nós. Mas depois, poças!, crescemos. Ou seja: passámos a fazer tudo isso às escondidas. NCS
(texto publicado no jornal A Capital do dia 13 de Fevereiro de 2005)

sábado, fevereiro 12, 2005

O maravilhoso mundo de LCD Soundsystem

Jamaica, anos 50. Nas ruas de Kingston, dança-se ao som da música saída de pequenas unidades móveis que circulam pela cidade, discotecas ambulantes conhecidas por Sound Systems, que reproduzem os êxitos importados da América. Foi assim que nasceu o ska. E foi a partir deste que se desenvolveu o dub, o qual, anos mais tarde, desembarcaria em Inglaterra para contaminar o punk.

Colónia, 1969. Os Can, um grupo de rapazes com uma apreciável educação musical, admiradores de Karl Heinz Stockhausen e do psicadelismo britânico que então dava cartas, lançam Monster Movie numa limitadíssima edição. Quase todos aqueles que conseguiram pôr as mãos num dos 500 exemplares, formaram de seguida a sua banda. Com Monster Movie, uma espécie de versão teutónica de Velvet Underground & Nico, estava oficialmente aberta a profícua estrada do krautrock, sem a qual a música dos anos 90 teria tido metade do interesse que teve.

Universo, 1973. Goste-se ou não (eu gosto), a importância de The Dark Side of the Moon está muito para além dos recordes batidos em tabelas discográficas. A pop, sem querer fazer-se passar por erudita, pode ter mais de três acordes.

Londres, 1977. Os Clash - cujo nome se deve às famosas batalhas sonoras entre sound systems jamaicanos, as sound clashes -, incluem no seu primeiro disco o clássico reggae de Junior Murvin/Lee Perry, Police and Thieves. O punk passou a querer-se 'dançável'.

Nova Iorque, finais de 70/inícios de 80. Se o punk também deve servir para dançar, porque não fazer dele punk-funk. Os Talking Heads juntam atitude e energia tribais com conceptualismo intelectual, e, guiados pela bússola de Brian Eno, criam quatro enormes álbuns que definem toda uma época e influenciam as que se seguem. Ao mesmo tempo, no mesmo local, e igualmente sob a tutela sonora de Brian Eno, surge No New York - o manifesto inaugural da no wave.

Manchester, 1983. Na capital da depressão, Mark E. "The Fall" Smith lança Preverted by Language. Não é de todo preciso saber-se cantar para fazer um grande disco.

Detroit, anos 80. Mais do que da tentativa de encontrar a alma da máquina, o techno minimalista da Motown nasceu da contingência de ter que fazer música funk a partir de sintetizadores baratos.

Mundo, anos 90. O dub, originado nos sound systems jamaicanos, alastra-se a muita da música que vai sendo feita: do trip-hop ao jungle, da house ao techno, por quase toda a música electrónica, de Viena a Bristol, de Berlim a Tóquio, de Paris a Los Angeles. A sua influência é tão vasta que chega até a atingir personagens muito pouco prováveis como, imagine-se, Tom Waits (ouvir Sins of my Father do último Real Gone).

Nova Iorque, anos 00. Uma onda de revivalismo das correntes punk e no wave de finais de 70/inícios de 80 toma conta da cidade, para de seguida tomar conta do mundo. Vários são os grupos que surgem inspirados pelos Television, Suicide, e companhia. A Indústria não perde tempo e reedita os fundos de catálogo desse período áureo da pop, ao mesmo tempo que lança para o mercado inúmeras colectâneas. De repente, toda a gente gosta de Gang of Four, Liquid Liquid, D.N.A., A Certain Ratio, etc., etc., etc....
O futuro passou, definitivamente, a morar no passado.

Lisboa, hoje. A pequena súmula acima relatada toma forma no som que sai das colunas da minha aparelhagem. A tocar está Lcd Soundsystem, o sound system de James Murphy, americano, 34 anos de idade.
Pertence, tal como eu, à geração de 70. Cresceu, como eu, a ouvir música pop. Com a mesma atitude, de quem, à partida, não exclui nada. Se toca, dá para ouvir. Se dá para ouvir, ouve-se. Se se gosta, melhor; se não, paciência, passa-se ao próximo. Durante anos, ouviu tudo o que o tempo permitiu ouvir, e o resultado está à vista. Em Lcd soundsystem, James Murphy cita aquilo de que mais gosta, que calha também ser muito daquilo de que eu mais gosto. É uma viagem pela sua - que é também a minha - história da música pop.

Talvez seja só por isso que este disco me soa tão bem.

ENP

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Ordenar, baralhar e dar de novo


Dois discos que, desde o início da semana, não saem do gira-discos e, consequentemente, dos meus ouvidos. Dois discos que estão para a música pop, como os filmes de Tarantino estão para o cinema. As sínteses, quando feitas por quem ouviu tudo e a isso soma algum (muito) talento criativo, são revigorantes e abrem novos caminhos para aquilo que, porventura, se julgava já inventado, descoberto, analisado e arrumado no armário da história. Estes dois discos vêm demonstrar, como se preciso ainda fosse, que é do baú das velharias que se saca a melhor das novidades. (a desenvolver no fds)
Lcd Soundsystem, Lcd Soundsystem (2005) e Sung Tongs, Animal Collective (2004).
ENP

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

The biggest, loudest, hairiest group of all



Há já uns tempos que tinha deixado de procurar o disco. Quando saiu, há dois anos, fi-lo por diversas vezes. Em vão. Mas, agora, numa incursão a uma discoteca, sem objectivo previamente definido, no meio de um monte de promoções dos quais desconfio sempre, eis que me veio parar às mãos. O disco é o Le Bataclan ’72. Um concerto com um som sofrível do Lou Reed, John Cale e da Nico em Paris, 1972. Um concerto improvável. Improvável porque os Velvet já eram e, depois e antes das zangas, já não fazia sentido aquele encontro único. Improvável porque é em formato unplugged quando ainda ninguém se tinha lembrado de convencer a MTV a usá-lo e improvável porque ainda ninguém andava a fazer o que os Velvet tinham feito meia-dúzia de anos antes. Improvável porque o Lou Reed fala entre as músicas, com um incaracterístico humor (Berlin é apresentado como sendo a sua Barbara Streisand song). Mas, depois está lá tudo o que é provável. Algumas dos Velvet e já muitas das que os três fariam daí para a frente, a sós. Depois, mesmo sem um som perfeito (e o que é que isso interessa?), a Nico canta o Femme Fatale. E a questão é simples: quem não se arrepia a ouvir aquilo, naquele tom pausado e naquela voz, o melhor que tem a fazer é não perder muito tempo a ouvir música. Isto veio-me parar às mãos por 7 euros. PAS

terça-feira, fevereiro 08, 2005

o mundo visto pela nesga dos meus olhos

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Coisas que melhoram algumas (?) vidas


com a Kirsten Dunst dá para falar sobre os The Smiths. PAS

terça-feira, fevereiro 01, 2005

depois não se queixem que não foram avisados

.
ora vejam só. PAS

CD´s fora das caixas II

Essa é que é essa. Normalmente há um estranho a ocupar o seu lugar. Porque, sabemos disso, quando não se encontra a caixa certa pega-se muitas vezes na que está mais à mão. O que até pode ser divertido. Dentro de uma caixa do Michael Nyman pode estar um CD do Badly Drawn Boy. Dentro de uma caixa do Prince pode estar o Stabat Mater do Pergolesi. Até que chega o dia (normalmente distante) em que o melómano se dispõe a ordenar os CD´s. O pretexto pode ser uma festa ou o facto de estar farto de andar três quartos de hora à procura do disco dos Felt que tem saudades de ouvir. E finalmente o mundo volta a ter uma certa arrumação. NCS

CD´s fora das caixas I

Eis um dos graves problemas do melómano. Sou especialista antigo no assunto. Levo ao desespero qualquer empregada doméstica que se disponha a fazer uma arrumação às músicas. Neste momento, a coisa está um caos (desculpe Dona Arlete). Tenho feito um pouco como o homem que vai ditando a desordenada programação da RTP-Memória: ele vai tirando as bobines ao acaso do arquivo. Eu vou tirando os CD´s ao calhas da estante. Espero que o senhor ao menos volte a arrumar o Zé Gato no sítio. Eu não. Faço um ligeiríssimo esforço para encontrar a caixa, mas se não a vislumbro num relance deixo o CD em cima da papelada. Do Expresso ou do Destak. Assim. Abandonado. Vítima de todos os pós (à excepção desse em que estão a pensar) e da minha sinusite. Mesma a mais prima das obras. O artista pode ser um bom artista, pode chamar-se Ian Curtis ou Mark Eitzel, pode até ser uma moçoila, uma Rickie Lee Jones ou uma Ursula Rucker, ou um tio belga chamado Wim, que fica ali ao frio. Durante dias. Se calhar meses. Num silêncio resignado de quem sabe que é bem capaz de nunca voltar a encontrar a sua casa - se é que esta já não foi ocupada por estranhos. Triste vida a do CD. NCS