terça-feira, junho 28, 2005

Uma grandessíssima banda



«O cantor deles é um tipo que escreve letras muito apuradas, corrosivas sem nunca cair no cinismo, histórias e situações encenadas com grande inteligência – o que ultimamente é muito raro em Inglaterra. Tenho imensa inveja desse sentido inato da melodia que têm os Belle and Sebastian, ou que tinham os Monkees, essa maneira fenomenal de encadear as notas de tal forma que nunca conseguimos dissociá-las», Mark Eitzel

(citação roubada a um artigo antigo do Cristóvão Gomes - da altura em que ele ainda escrevia sobre música; lembram-se? - sobre If You’re Feeling Sinister)


Há aí uns tipos que dizem que os Belle and Sebastian são um grupo para assexuados - a puxar assim para o mariconço. Mais: há aí uma malta a gritar ao mundo a sua virilidade musical, afirmando que os Belle and Sebastian são musiquinha para gente que acha que sexo é ler um poema de Keats debaixo de uma árvore afeminada (habitada por uma colectividade de pássaros travestis).
Há aí uns artistas a sublinhar que os Belle and Sebastian são uma fraude. Que, em termos musicais, não valem um caracol (neste caso, um caracol gay). Pois bem, eu acho que tudo isso é verdade. E até digo mais: é por isso que gosto tanto deles. (E é por isso também que a minha mulher e o meu filho estão aqui ao pé do computador a olhar para mim com um ar algo angustiado).
(Calma, já vou retirar algumas das palavras que escrevi acima. Só queria ter o prazer de começar a crónica desta maneira. Antes de mais, vou retirar a palavra ‘malta’; já não se usa e, afinal de contas, isto não é uma recensão sobre o último concerto do Janita).
Depois do capricho, sejamos, então, directos - e científicos – nisto. Sejamos até um bocadinho violentos (faz falta de vez em quando uma certa rudeza melómana). Os Belle and Sebastian são uma grandessíssima banda. Ou foram uma das melhores bandas que andaram por aí (os últimos álbuns são francamente uma desilusão).
O argumento para defender a tese é tão somente este: não é qualquer bandeca que é capaz de compor um tema tão sublime e eterno como A Century of Fakers, incluído em Push Barman to Open Old Wounds - a recém-saída compilação de EP’s do grupo. Desprezar uma canção como A Century of Fakers – reduzi-la a nada – é inclusive da ordem da tolice. Estou tão seguro disto que até vou mais longe: não entender que Century of Fakers é uma cançoneta do caraças (em qualquer investida pela História dos territórios indie) é não perceber uma lesma (uma lesma hetero, ok) de música.
Não me fico por aqui. E Lazy Line Painter Jane? E The State I Am In? E Belle and Sebastian? E – talvez sobretudo – Put the Book Back on the Shelf?(só para falar no primeiro disco da compilação). Admito que se possa não gostar da estética frágil-literária-campestre (e que se queira partir a cara aos meninos por causa disso). Mas esse impulso inteiramente legítimo não devia - entre gente musicalmente instruída - ser transformado numa espécie de desatenção militantemente totó à qualidade melódica (e de letras) superior da coisa.
Do segundo disco destacam-se (como verdadeiras papoilas saltitantes) Slow Graffiti, Winter Wooskie e Take Your Carriage clock and Shove It. Mas prefiro passar a tarde a ouvir - em loop - um clássico (quase todos os temas são clássicos, mas há uns mais apurados do que outros) chamado This is Just a Modern Rock Song. Um tratado sobre a arte de escrever canções. Canções simples. Quanto mais simples, melhor. Sem qualquer tipo de heroísmos pelo meio, por favor. NCS
(texto publicado no jornal A Capital)

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os B&S são enormes e o João Lisboa que morra.

9:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

São (foram) a maior banda de Singles depois dos Smiths. Esta compilação só peca por tardia – agora todos juntos:
« The priest in the booth had a photographic memory For all he had heard He took all of my sins and he wrote a pocket novel called The State I Am In »...

11:56 da manhã  
Blogger Mono said...

São melhores que os Rollerskate Skinny, uma banda que o João Lisboa elegeu como melhor do ano nos idos noventa e que passou ao lado do Mundo...
Estará o Mundo errado?

5:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que bom terem escrito sobre os B&s. Devo confessar que também sou suspeito para falar deles, visto elevá-los ao patamar maior aqui por casa, mas é impossível ignorar o génio do Stuart, do Stevie, do Chris; assim como se torna impossível não nos deixarmos embalar pelas vozes da Isobel ou da Sarah Martin. Os albuns, as letras e até mesmo os videos criam um imaginário próprio e irresistível que se torna num verdadeiro culto. São uma banda imensa!

« I thought my dad was Elvis. I haven't told him that yet. I haven't told my dad either ... »

- Stuart Murdoch

9:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

os belle & sebastian tem coisas muito bonitas! são calmos e líricos, passam ao lado da agressividade q nos dias de hoje é bastante mais bem vista na pop. uma banda para "assexuados a puxar para o mariconço", pelos vistos, é um insulto. ninguem ouve dizer que os pet shop boys são uma banda para mariconços hiperssexuados... porque isso já está muito bem! não tenho nada contra, diga-se de passagem - mas deixem os belle & sebastian na deles.

11:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

descobri a banda no filme alta fidelidade...
sao uma delicia de facto...
BELO BLOGSA ESTE GUYS!

10:47 da tarde  

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