domingo, outubro 23, 2005

A camisa de alças do baterista dos Pixies



Deve ser uma febrezita de mudança de estação - ando numa de DVD’s musicais. Primeiro vi uma coisa brazuca sobre os Cure – com telediscos, algumas conversinhas com a banda e umas imagens tiradas antes e depois dos concertos. Depois, abalancei-me a «Westway to the World», sobre a ascensão e queda dos Clash (boa malha; mas, ainda assim, inferior a essa bomba que é o documentário de Julian Temple sobre os Sex Pistols).
Nestes últimos dias, assisti a «Umbrellas in the Sun», com umas imagens maradíssimas dos arquivos da Factory, da Factory Benelux e da Les Disques du Crepuscule e ainda ao DVD de uma rapaziada bostoniana chamada Pixies. (Tenho ainda para ver um documentário que me soa a chatice das grandes - «Looking for a Thrill – An Anthology of Inspiration», com depoimentos sobre «instantes de iluminação criativa» de gente como Jon Spencer, Thurston Moore e Kurt Wagner).
Detenhamo-nos no DVD dos Pixies – aquele de que provavelmente mais gostei. Traz um concerto fabuloso - o concertaço de Londres, em 88. Traz uns simpáticos telediscos. Traz umas imagens estilo vídeo amador captadas durante uma digressão pelos EUA e pela Europa. E ainda um documentáriozinho em que uma data de deuses (tipo Bono e Bowie) se ajoelha perante Black Francis, David Lovering, Kim Deal e Joey Santiago.
Mas não foi isso que me ficou do DVD dos autores de «Surfer Rosa», um dos álbuns da minha viducha adolescente (portanto da minha viducha tout court). O que me ficou do visionamento do filme foi a camisa cor de rosa (como o surfista, pois) de alças de David Lovering, o baterista de serviço (e que baterista de serviço). Uma camisa que, note-se, o inquieto David usa mais do que uma vez durante as filmagens. (Até, se não estou em erro, enverga-a durante uma passeata, com a dona Kim, pelas ruelas de Veneza).
O que me ficou foi, pois, este pormenor divertido: numa altura em que andávamos todos de preto, com os casacões dos nossos bisavós e uma pose mais depressiva do que a filmografia do Visconti, um dos nossos maiores ídolos andava por aí com uma camisa exuberantemente pirosa - que podia muito bem ser propriedade de um emigrante a passear em São Miguel, no Campo de São Francisco, durante as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. NCS
(Texto publicado no suplemento SARL, do Jornal dos Açores)

1 Comments:

Blogger João Pedro said...

Os telediscos acredito que não tenham sido muitos. Não era essa a actividade preferida do renascido grupo. Mas o concerto de Londres, esse, deve ter sido de estrondo. como aliás todos os que eles faziam antes da separação.

3:07 da manhã  

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