domingo, novembro 14, 2004

Wonder Boy?



Ao princípio até estava a correr mal. A voz de Rufus revelava o travo desagradável que por vezes tem, o piano parecia excessivamente martelado. Mas com o passar das músicas a coisa foi melhorando bastante, ou estranhando-se menos. As músicas eram cantadas no osso, despojados dos arranjos que, principalmente em Want One, por vezes quase que deitam tudo a perder. Afinal, por detrás dos coros gongóricos, das cordas que chegam a lembrar o sinfonismo dos Queen, estava uma mão-cheia (duas até) de excelentes canções. Só com o piano ou só com a guitarra – e muito conversador entre as músicas, com ironia e boa disposição – Rufus foi revelando o melhor de si. Ainda que o público estivesse conquistado à partida, com direito a palminhas a marcar compassos que não eram desejados, a verdade é que fazer aquele concerto não deixa de ser um acto de coragem. Tocou quase tudo o que esperávamos que tocasse, mas para o fim ficou o melhor. Cinco minutos que prolongados fariam do concerto de Rufus um concerto inesquecível. De guitarra em punho. Uma perna ligeiramente à frente, pose de “rock star”, Rufus, no segundo ou terceiro encore, que quase parecia fora de programa (seria?), não ensaiado, avança para uma versão arrebatadora, sem chão, de “Go or Go Ahead”. A Aula Magna em silêncio e, no meio do silêncio, quando num desespero empolgado, Rufus arriscava o refrão, “look in her eyes”, que no original tem uma espessa camada de coros femininos que ficou provado é desnecessária, parecia que afinal ali estava mesmo o tão (auto)proclamado “wonder boy”. Quem consegue cantar uma música, nem que seja apenas uma música, daquele modo, poderá ser outra coisa? PAS

2 Comments:

Blogger João Amaro Correia said...

por acaso achei o concerto entediante de morte. e pior!, enquanto decorria esta liturgia secante, o SLB empatava e perdia o comando do campeonato!
um mal nunca vem só!

8:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois eu cá só conheço Rufus do pouco que li no Blitz e no pouco que ouvi na Radar; provavelmente precisaria de ouvi-lo melhor para me convencer... Até agora, não me transtorna (pela positiva) muito... Talvez esteja errada

http://www.cromossomaxis.blogspot.com

10:10 da manhã  

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