sábado, janeiro 29, 2005

Da série "não sei onde arrumar este disco” #4

Algures durante a minha adolescência passei por uma fase complicada em que consumi desenfreadamente uma coisa chamada "rock progressivo" (desiludam-se os que pensam que hoje renego tal passado. Ainda tenho quase todos os discos que na altura, com esforço, coleccionei, sendo certo que gosto da maior parte deles, alguns continuo a ouvir, e outros fazem até parte das minhas listas de preferidos, como os sempre espantosos Van der Graff Generator).
No labirinto de nomes e sub géneros sobre o qual o "progressivo" se ergue, fui dar com um grupo de difícil, ou mesmo impossível, arrumação: Area, de seu nome. “A mais radical experiência da música italiana dos anos setenta”. Uma música original, diferente de tudo o que se fazia, e influenciada por fenómenos tão díspares como o free jazz, John Cage (esse dos '4.33' de silêncio), a pop, Nietzsche, o Partido Comunista, folk do médio oriente, música electrónica e a canção popular mediterrânica. No som dos Area, a figura do vocalista Demetrio Stratos (como o nome indica, de origem grega) era determinante - a sua extraordinária técnica vocal permitia-lhe fazer com a voz o que muitos não conseguem fazer com uma orquestra. Nos seus discos, várias são as passagens vocais assombrosas, milhas à frente de certos malabarismos a que se costuma dar tanto valor. Enfim, este era também um grupo acentuadamente político (política de rua, entenda-se), de esquerda (a sua sigla international POPular group não engana), com pretensões filosóficas e instintos anarquistas. Um (fabuloso) caos sonoro saído de umas cabeças caóticas, no tempo em que tudo isso era compreensível.
Ora, se isto é "rock progressivo", o que eu contesto, então só pode ser agit-prog.



Aos que têm gosto em conhecer o desconhecido, aconselho, para começar, dois discos dos Area: Arbeit Macht Frei e Event’ 76, respectivamente, a sua opus 1 e o registo de um concerto na Aula Magna da Universidade de Milão.
ENP