segunda-feira, março 28, 2005

Discalhada vária


No outro dia, o meu filho de sete meses chegou a casa com os seus dois primeiros discos debaixo do braço (também trouxe a Marineide, uma namorada brasileira, mas isso fica para outra vez). À partida, não achei mal. Disse-lhe apenas para ter cuidadinho se não iria acabar como o pai – submerso em centenas de CD’s à deriva, órfãos das respectivas caixas. Ou seja: agarrado à música. Incapaz de pintar as unhas, fazer sapateado ou assistir ao Spa’s da Marisa sem ter a aparelhagem ligada. Nem que seja a tocar o Best Of do Paulo Gonzo.
Mas o pior é que os discos eram estes: On the Beach, de Chris Rea, e uma coisa chamada Cristopher Cross. Passei-me. A mãe da criança ainda me tentou acalmar explicando que o rapaz havia recebido os CD’s no 9.º Passeio Avós e Netos (sim, o meu sogro levou o petiz às costas), integrado na meia-maratona de Lisboa. Esta é para a organização do evento: não andem a fazer mal ao meu filho! Antes tivessem oferecido, sei lá, o Morangos com Açúcar (Série 2). Antes ouvir o “Descobrir Horizontes”, de um Ménito Ramos, ou o “Ainda Acredito”, de uma Patrícia Candoso, do que esta discografia nocturna de rádio de província (é claro que escrevo isto com todo o respeito para com a rouquidão patológica do senhor Rea; recomendo-lhe as antiguinhas pastilhas Bimil, que em tempos curaram o vocalista dos Deacon Blue).
Feito o aviso, avancemos. Chegados a este ponto da nossa relação, é altura de vos contar toda a verdade: hoje vamos ter um programa diferente. Aqui ficam as notas pascais sobre alguma da tralha sonora que tenho em cima da mesa do computador:
1 - Nunca saberemos se Rufus chegou a pedir a Tom Chaplin (a carinha dos Keane) para ter uma noite louca e diferente no Ibis do Saldanha, mas a verdade é que Want Two é um álbum satisfeito e apaziguado. E cheio de belíssimas cançonetas. Como “The One You Love” – uma homenagem inconsciente aos Auteurs - e “Gay Messiah”, um slow que podia muito bem encerrar as noite do Trumps.
2 – Os Daft Punk em Human After All estão muito, muito chatos. Façam um favor aos rapazes. Desliguem-nos das máquinas por uns tempos.
3- Depois de uma primeira audição, pode dizer-se que o último álbum de Moby não se devia chamar Hotel, mas sim Pensão Dafundo (ou coisa do género). Safam-se a energia de “Lift me Up” – sem o piroso “oh, lá, lá, lá, lá” final – e sobretudo a suave (e absorvente) versão de “Temptation” dos New Order.
4 - O que é que querem?, o génio do trimeste que se esconde atrás do nome Bright Eyes ainda não me convenceu. Sim, o talento e a tremura na voz estão lá. Mas nota-se que lhe falta alguma vida - e não apenas sexual.
5 – Lamento informar, mas quem ainda não ouviu a música de um grupo chamado The Arcade Fire não merece continuar entre os vivos. (Adeus, dona Lurdes e cão Juca, do 2.º andar). O álbum justamente chamado Funeral é a melhor coisa que se tem ouvido por aí. Uma reunião de condóminos improvável com os Pulp e os Apartments presentes. Descobri há dias que eles são do Quebec. O que é mais ou menos como descobrir que os Joy Division afinal eram de Alverca.
NCS (texto publicado em A Capital no domingo)

1 Comments:

Blogger paulo said...

o álbum dos the arcade fire é um dos álbuns que roda sem parar no meu computador. mais membros da invasão canadiana iniciada este ano pelo amigo Rufus. e pelos vistos mereço estar vivo. mas que é um belo "Funeral", lá isso é...

10:41 da manhã  

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