Diggin' em Berlim
O melhor disco de Lou Reed; a terra natal dos Tangerine Dream (um grupo cujos quatro primeiros álbums são venerados tanto por mim como pelo Julian Cope); local de exílio de Bowie e Iggy Pop; casa europeia da techno e da house; objecto de uma das músicas da idade da puberdade; nome do grupo que canta Take my Breath Away; e mais que agora não me ocorre; Berlim é uma das cidades que fazem parte do imaginário pop, rock, o que lhe quiserem chamar.
Para ficar a conhecê-la, ainda que superficialmente, andei pelas ruas, conheci pessoas, senti os cheiros, observei os hábitos e visitei algumas lojas de discos. Neste último capítulo, a capital de um dos mais pujantes mercados, prometia não desiludir. E assim, certo que me iria dar bem, reservei a manhã de sábado para dedicá-la a um desporto favorito: diggin' ou, por palavras, remexer escaparates e prateleiras de discos à procura de tudo aquilo que for possível encontrar.
O tempo disponível, embora pouco, deu para conhecer sete lojas diferentes. Em três delas (Melting Point, Space Hall e Har Wax), por depressa perceber que se destinavam aos techno geeks, limitei-me a entrar e sair; numa outra, devota de um modelo que vai proliferando por todo o lado (uma Fnac em alemão), também não gastei muito tempo. Passando às restantes, dedicadas em especial ao vinil, susceptíveis, pois, de agradar àqueles que, como Steve Albini, têm por lema "fuck digital, the future belongs to the analog", a melhor é, sem hesitação, Mr Dead & Mrs Free. Dirigida por um casal, ao que pude constatar, bastante livre e ainda vivo, que - coisa rara em Berlim - falava um inglês perfeito, esta casa com paredes cobertas de capas de LP e memorabilia vende sobretudo reedições em importações americanas, inglesas e japonesas. Muita coisa dos anos 60 e 70, da surf music ao protopunk estilo Nuggets, passando por belíssimas secções de funk e da outrora chamada race music (a soul dos primórdios). Infelizmente, foi a primeira que visitei, pelo que me contive nas compras. Não fossem os alemães desta ainda algo estranha Alemanha avessos a certos usos neoliberais, mantendo o comércio aberto para lá das quatro da tarde, e outro teria sido o peso da minha mala de regresso. Da Mr Dead para a Cover, um gigantesco barril do lixo, atulhado, desarrumado e pouco funcional. É a dificuldade em imaginar a existência de alguma coisa que interesse num sítio destes que faz do diggin' uma actividade estimulante - descobrir submerso naquela tralha o disco que há muito se procura dá um prazer acrescido -, e eu, em aflitivo contra relógio, por entre Sandras, Sabrinas, Samanthas e outras aberrações dos queridos anos 80, tive a sorte de desencantar uma edição em LP de Songs About Fucking dos Big Black, só e mais nada, um dos poucos discos que trazia na minha lista mental de compras. Last and, yes, least, vem a Scratch Records. Uma alternativa menos boa à Mr Dead & Mrs Free, onde jazem razoáveis catálogos de tudo o que de bom a Jamaica exporta, maxis de hip hop old school e bandas sonoras série b a z.
Mr Dead & Mrs Free
Em suma, no que a lojas de discos respeita, Berlim não é Londres, nem Nova Iorque, nem Tóquio (a Meca dos vinyl junkies). Mas, para quem até nem é especialmente exigente, não vai mesmo nada mal.
ENP
Para ficar a conhecê-la, ainda que superficialmente, andei pelas ruas, conheci pessoas, senti os cheiros, observei os hábitos e visitei algumas lojas de discos. Neste último capítulo, a capital de um dos mais pujantes mercados, prometia não desiludir. E assim, certo que me iria dar bem, reservei a manhã de sábado para dedicá-la a um desporto favorito: diggin' ou, por palavras, remexer escaparates e prateleiras de discos à procura de tudo aquilo que for possível encontrar.
O tempo disponível, embora pouco, deu para conhecer sete lojas diferentes. Em três delas (Melting Point, Space Hall e Har Wax), por depressa perceber que se destinavam aos techno geeks, limitei-me a entrar e sair; numa outra, devota de um modelo que vai proliferando por todo o lado (uma Fnac em alemão), também não gastei muito tempo. Passando às restantes, dedicadas em especial ao vinil, susceptíveis, pois, de agradar àqueles que, como Steve Albini, têm por lema "fuck digital, the future belongs to the analog", a melhor é, sem hesitação, Mr Dead & Mrs Free. Dirigida por um casal, ao que pude constatar, bastante livre e ainda vivo, que - coisa rara em Berlim - falava um inglês perfeito, esta casa com paredes cobertas de capas de LP e memorabilia vende sobretudo reedições em importações americanas, inglesas e japonesas. Muita coisa dos anos 60 e 70, da surf music ao protopunk estilo Nuggets, passando por belíssimas secções de funk e da outrora chamada race music (a soul dos primórdios). Infelizmente, foi a primeira que visitei, pelo que me contive nas compras. Não fossem os alemães desta ainda algo estranha Alemanha avessos a certos usos neoliberais, mantendo o comércio aberto para lá das quatro da tarde, e outro teria sido o peso da minha mala de regresso. Da Mr Dead para a Cover, um gigantesco barril do lixo, atulhado, desarrumado e pouco funcional. É a dificuldade em imaginar a existência de alguma coisa que interesse num sítio destes que faz do diggin' uma actividade estimulante - descobrir submerso naquela tralha o disco que há muito se procura dá um prazer acrescido -, e eu, em aflitivo contra relógio, por entre Sandras, Sabrinas, Samanthas e outras aberrações dos queridos anos 80, tive a sorte de desencantar uma edição em LP de Songs About Fucking dos Big Black, só e mais nada, um dos poucos discos que trazia na minha lista mental de compras. Last and, yes, least, vem a Scratch Records. Uma alternativa menos boa à Mr Dead & Mrs Free, onde jazem razoáveis catálogos de tudo o que de bom a Jamaica exporta, maxis de hip hop old school e bandas sonoras série b a z.
Mr Dead & Mrs Free
Em suma, no que a lojas de discos respeita, Berlim não é Londres, nem Nova Iorque, nem Tóquio (a Meca dos vinyl junkies). Mas, para quem até nem é especialmente exigente, não vai mesmo nada mal.
ENP
1 Comments:
faltou a referência à passagem de nick cave por berlim.
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