segunda-feira, julho 04, 2005

És tão bom



Está um calor dos Távoras. Eu já não tenho t-shirts para mudar. A minha mulher e o meu filho estão em alegre passeata pela cidade. O Expresso traz uma fotografia do Isaltino Morais. Eu estou preocupado com o tamanho do abdominal. Em cima da mesa do computador estão o Guia do Condómino e a conta do telemóvel.
É este é o translumbrante quadro dentro do qual me proponho escrever umas notinhas sobre alguma discografia que tenho consumido por estes dias - nos intervalos da escrita de guiões para o Fiel ou Infiel?, para os discursos do Manuel Pinho e para a vida privada dos solitários do meu bairro.
Comecemos por onde? Não sei. Perguntem ao M. Seabra Augusto. (Pausa para olhar de novo, agora de uma forma mais desesperada, para o Guia do Condómino). Talvez por Minimum Maximum, o CD duplo que os Kraftwerk lançaram no início de Junho - e que traz alguns dos diamantes (ou diamantinos, se quiserem) sonoros produzidos pelo grupo ao longo de décadas e generosamente exibidos em público durante o ano passado.
Uma bomba este CD. Dá vontade de sair pela rua com o disquito pelos braços, a cantar uma versão em masculino (digamos assim) da última musiqueta do Herman: És tão Boa. (Estou a ouvi-lo neste momento; entra Tour de France - e o abdominal mexe-se sozinho, como se estivesse grávido). Reproduz o espírito dos concertaços (estive no do Coliseu de Lisboa). Recomendável das unhas dos pés aos fios da cachimónia. E – ao contrário do que se possa pensar – nada gélido. Bem quentinho até. Como o Salão Erótico da Brandoa.
Ainda dentro deste mesmo tipo de sonoridade: o último de Bruce Springsteen, Devils & Dust. Antes de comprar esta embarcação, fui encostado à parede por dois amigos – de bom ouvido e de alienada paixão por Neil Young. Ameaçaram incendiar a nossa amizade se eu não ouvisse a obra rapidamente. «É que ele está mais Johnny Cash do que o próprio Johnny Cash», ainda gritaram, perante o meu cepticismo tipo Bica do Sapato.
Ouvi. E, pronto, lá tive novamente vontade de cantarolar o És tão Bom. Profundo como uma naifada ao fim da tarde. Lírico como as opiniões da dona Ana Drago. Bruce baladeiro como a gente já o ouviu. Mas mais essencial. Mais para que é que vou estar aqui com coisas? Óptimo para ouvir antes de deitar, quando nos vêm à cabeça perguntas tão decisivas como “por que é que não poupei uns trocos durante o ano para poder viajar até ao Havai (e agora sou obrigado a passar o mês de Agosto na garagem dos meus tios em Rabuja do Ribatejo)?
Avancemos (que eu tenho de ir almoçar uma bica com adoçante). Aimee Mann, em The Forgotten Arm, pode até não estar tão pouco apetitosa assim. Eu é que na semana passada ouvi de novo (por acaso; um coleguinha de trabalho estava a passá-la) a inultrapassável (até ao momento) banda sonora de Magnolia. Concordo com o meu amigo Pedro Adão: A Certain Trigger, dos Maximo Park, não é assim nada de especial. Ou seja: tem uns (poucos) temas porreiraços, mas como álbum não é de uma dona Almerinda se atirar para o chão. Prefiro – num registo mais anárquico-copofónico – os Art Brut. Sempre dão para partir a louça à vizinhança. NCS

(Texto publicado em A Capital)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

este texto é para ter graça?
então é para quê?!

3:35 da manhã  

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