Até que idade pensas ouvir os Black Rebel Motorcycle Club?
Às vezes, um cidadão dá por si a pensar em questões menores como “por que é que o mundo é tão injusto?”. Outras, é apanhado a reflectir sobre os temas fundamentais da humanidade: “terei ainda idade para ouvir estas guitarradas distorcidas?”. É assim, fútil e essencial, a existência. Um indivíduo guia a sua carripana no IC19 e, enquanto resguarda prudentemente a condução na faixa da direita, vai perguntando a si próprio se ainda faz sentido ouvir a fúria adolescente de uma banda de garagem (mesmo que sobredotada). A cogitação acaba sempre com uma pergunta-limite: “se hoje fosse a um concerto dos Young Gods, teria ainda rins para um stage-diving?”. São interrogações que marcam uma pessoa. Até porque, lembremos, existe sempre o fantasma da menopausa musical. A fase em que se acha normal passar todos os sábados à noite a ouvir a discografia do David Sylvian (um talento irrepetível mas que, por vezes, é tomado como um vulgaríssimo calmante). Regressemos ao IC19: o indivíduo ainda permanece na faixa da direita no seu estilo devagarinho-que-eu-já-não-tenho-idade-para-a-rambóia. Mas, agora, mostra-se mais disposto à ajuda. A ordeira criatura recorda o exemplo de um primo que, já perto dos quarenta, sentiu um entusiasmo pela PJ Harvey tão vulcânico quanto o que havia sentido pelos Rolling Stones. E repete em voz alta que o disco dos Franz Ferdinand é do caraças - e que lhe dá ideias de organizar uma festarola com estridentes colunas. Sim, é outra vez moço. Arrisca a foleirice do termo: jovem. É então que abre o vidro, põe o braço direito de fora e repara que continua a ser ultrapassado por centenas de pais de família. Já reconciliado com os mistérios da existência, pode então imaginar que os senhores vão batendo a mãozinha no volante, ao som do alegre hit das Corrs. NCS
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