terça-feira, setembro 21, 2004

Birthday of a ladies’ man


Há cerca de quatro e certamente não mais de cinco músicos, cantores, ou que lhes quisermos chamar, que servem para marcar um ponto em que há o antes e o depois. O antes e o depois de os ouvir. Eu não sei exactamente quando é que ouvi pela primeira vez o Leonard Cohen, mas sei quando foi a primeira vez que reparei que estava a ouvir o Leonard Cohen e, mais importante do que isso, sei que depois passei a dar outra atenção a todas as músicas que ouvia. Por algumas características que hoje sei reconhecer, mas também por muitas que permanecem para mim indistintas, o Leonard Cohen passou a ser uma das medidas de todas as outras músicas. Hoje, ele faz setenta anos e terá sido aí há uns dezasseis que estive num concerto, de que guardo uma memória absolutamente nítida, que ele deu no Coliseu. Já era na fase do I’m Your Man, em que revelava uma capacidade única de envolver as canções nuns arranjos meio-foleiros, mas que nas músicas dele soam como que necessários. Desde aí, e ao mesmo tempo que a voz foi ficando ainda mais marcada pela rouquidão, tem sido sempre assim. Sintetizadores anacrónicos, coros arriscados, e melodias pouco entusiasmantes. Mas, no momento em que as palavras se seguem umas às outras, tudo o que não tinha sentido passa a tê-lo. As canções são naturalmente sempre sobre o mesmo: o sexo, a religiosidade e os amores entre os homens e as mulheres. Aliás, juntamente com o Chico e o Jacques Brel, o Leonard Cohen é o melhor tipo a escrever canções sobre o mundo dos homens, conseguindo ao mesmo tempo convencer as mulheres que os homens, sendo absolutamente homens, até podem ser uns tipos decentes e interessantes. The Stranger Song, que é do primeiro disco é talvez um dos exemplos mais acabados disso mesmo. Escusado será dizer que se me fosse possível só ouvir mais três ou quatro músicas até ao resto dos meus dias, tinha de escolher uma dele. Para o que desse e viesse. Ah, e a foto, que é do inlay do Songs From a Room, sempre me intrigou. Vá lá saber-se porquê. PAS

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Escrevam qualquer coisa sobre o estado da música em Portugal.
Exemplo: Luís Montez. Relação entre a música que passa na Antena 3 e os concertos organizados pela Música no Coração. Qual a música que a Antena 3 deveria passar (serviço púiblico).

5:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ouço Cohen desde os 13 ou 14 anos. Há muito tempo! Sempre o mesmo encantamento. Também estive no Coliseu. Achei graça à tua referência aos arranjos meio-foleiros. Concordo. Também prefiro o período anterior, sobretudo o da viola acústica. Mas com arranjos foleiros ou não (aquele "Dance me to the end of love", por exemplo, é terrível), ele continua a "apanhar-nos", a encantar-nos. Quanto a escrever canções sobre o mundo dos homens, o Brel sem dúvida, e o Brassens. Nunca pensei no Chico nessa perspectiva. Mas o Cohen parece-me mais abrangente que isso. Foi bom encontrar outro apaixonado de Cohen.
Soledade
http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt

1:00 da manhã  

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