Música para voltar da praia
Tinha o disco cá em casa há uns tempinhos e resolvi, não sei bem porquê (se calhar, estava a precisar de companhia de gente conhecida), pô-lo a tocar por estes dias. Sem parar. Obsessivamente. Enquanto dava retoques num poema, preparava um refogado ou mandava calar o Jorge Coelho. Falo de Up At the Lake, o último álbum (editado no ano passado) daqueles que são conhecidos na imprensa britânica como os “Vale e Azevedo do Norte de Inglaterra”: os Charlatans.
Não sei se vos interessa saber que mantive, em tempos, uma paixoneta dedicada – e, ao que sei, não correspondida - por esta banda. Na altura do boom manchesteriano, era das minhas preferidas. Pensando melhor: todas as bandas da altura (90, 91) eram das minhas preferidas. Desde que tivessem nascido e sido criadas nessa Florença do renascimento musical indie chamada Manchester. (Agora que penso nisso, bem bom que, na altura, o Toy não resolveu ir gravar um disco ao Hacienda; senão teria elogiado esse trabalhinho sem reservas).
O EP The Only One I Know, deu-me, para citar a Dina, a volta à cabeça. Mais tarde, o temazinho Weirdo também – provavelmente porque era aquilo que era e ainda sou. Dançar o Weirdo de uma forma amalucada (agora para citar Eduardo Lourenço) numa pista de dança era a afirmação de uma identidade – algures entre a euforia colectiva madchesteriana e o individualismo lírico/sentimental de quem andava a ler George Trakl entre os rochedos.
Vou dar propositamente um salto sobre a vida atribulada desta rapaziada (isso fica para as artigalhadas mais informativas) e aterrar directamente no melhor deste Up At the Lake. Antes de mais, quero dizer que é um álbum perfeito para ouvir este Verão. Não de manhã. Não à hora do almoço. Up At the Lake é música para ouvir ao fim da tarde, quando se regressa da praia e se sonha com a chegada do duche salvador.
Ignorem as três primeiras músicas do disco (são boas, mas, por serem demasiado inquietas e saltitonas, não servem o propósito). Cry Yourself to Sleep é boa para começar a viagem. Um gajo está a conduzir e sente as costas a escaldar. Isso: precisa de algum aconchego. Na alma, sobretudo. Remédio santo: arranca a cançoneta e, de imediato, começa a rodar o volante de um lado para o outro. Todo contente, pois.
(Façam-me o favor de saltar Bona Fide Treasure, com um gostinho aos Stone Roses de Second Coming - ou guardem-na para o momento em que, no dia seguinte, se dirigem aos areais). Estamos já a ouvir High Up Your Tree, a música ideal para o regresso a casa depois da praia – só comparável a alguns sublimes lados B’s dos Oasis como Talk Tonight e Half the World Away, incluídos em The Masterplan. (Nota: apesar de parecer, este não é o despudorado momento em que o cronista de serviço dá graxa ao oasiano Mendes da Silva).
Loving You is Easy é - toda ela - Beatles, Ride e Oasis. Traz consigo uma bela pianada romântica (óptima para fazermos contas à vida – ou seja, pensarmos nos petiscos que vamos pedir na jantarada depois do duche). Não ouçamos as últimas duas: Apples and Oranges, porque é demasiado barulhenta (e a malta, nessas alturas, prefere o descanso), e Dead Love, porque deprime. Fiquemo-nos por Loving You is Easy - que deve ser consumida quando já se está muito pertinho de casa. É, aliás, a música certa para ouvir antes de estacionar. Isso, se quisermos, voltar a acreditar que tudo é possível. E que a vida sorri.
(texto publicado no Domingo em A Capital)
NCS
5 Comments:
Como é que é? Vamos a Vilar de Mouros ver os lads em acção?
Vamos! Nunca vi os gajos ao vivo. Antes ainda temos os New Order.
mas ouve lá, ó mendes, vais passar o verão em festivais? não vês q já não tens idade, nem situação conjugal para isso! PAS
a musica e exactamente para se quisermos voltar a acreditar ... a vida sorri.
hugs,
ficamo-nos pelo kid loco no coliseu... (dos acores - 6 de agosto)
sim, ó adão, de carrinha volkswagen e tudo. para salvaguardar a situação conjugal.
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