terça-feira, março 08, 2005

Ah a santa terrinha



Antes de mais nada, uma pergunta: alguém viu os meus discos do Josh Rouse? É que já dei doze voltas à casa – inclusivamente fui ver ao armário onde costumo arrumar os bróculos, os cachecóis e os números antigos de O Dia – e não encontro o raio dos CD’s. Refiro-me a Under Cold Blue Stars e 1972. Se alguém os tiver em seu poder, é favor de os devolver de imediato. Se vierem cá trazer ao escritório até daqui a meia hora, ganham o direito a duas beijocas na testa dadas pelo meu filhote de seis meses (sei que não é irrecusável, mas é o que se arranja por agora).
Não encontro os antigos. Portanto, não posso fazer brilharetes comparativos tipo «o segundo acorde da primeira música é igual ao quarto da quinta do penúltimo álbum». Mas tenho aqui à minha frente Nashville, o último trabalho (sim, leram bem, escrevi trabalho) do cachopo. Ouvi o álbum 236,2 vezes. O meu vizinho Arnaldo – um senhor de 82 anos que é do Belenenses e anda fascinado com a “edição Pimpinha” da Maxmen – já sabe todas as músicas de cor. Chegámos à mesma conclusão (desculpem desde já os termos demasiados eruditos que vou utilizar a seguir): o álbum é porreiro. Minto: o álbum é porreirinho. Ouve-se bem do princípio ao fim. Não é do caraças. Ou seja: talvez não seja tão inatacável como aqueles dois CD’s que eu não consigo encontrar, mas um gajo quando acaba de o ouvir não tem vontade de dizer: «Ganda seca, man» ou «o chavalo não anda bem». Nashville é Josh Rouse. E – meus amigos – Josh Rouse é Josh Rouse (perdoem-me esta mania de ser tão minucioso nas apreciações).
Imaginem uma brisa agradável numa tarde em que estão 42 graus e há bicha na ponte. Aí têm o álbum. Sim, o rapaz, desde há um tempo para cá, está numa de homenagens. Homenageou no disco anterior os perigosíssimos seventies (fê-lo com extremo bom gosto; de passagem: sou fã do registo The Office do teledisco de Love Vibrations). Agora resolveu resolveu fazer uma ode à santa terrinha. À cidade do Tenessee que o viu nascer para a música - e para as cáries. Josh, agora a viver na terra de Almodovar, Bardem e de el Saramago, resolveu chorar os lugares e os sentimentos com que se fez um homenzinho. Copiou, pois, o exemplo de Tó Nando - que, quando se mudou na semana passada para a Penha de França, compôs o Fado da Picheleira.
Músicas preferidas? Winter in the Hamptons – que, segundo meio mundo e o próprio cantautor (sim, leram bem, escrevi cantautor) é um plágio de Smiths, mas que me faz lembrar imenso os Go-Betweens de 16 Lovers Lane (pausa de cinco segundos para deixar cair três lágrimas de nostalgia), Streetlights e as baladas Saturday e Sad Eyes (esta podia muito ter o subtítulo “tudo-o-que-eu-te-dou –tu-me-dás-a-mim-mix”), que no início parece – mas é que parece mesmo – o coleguinha Rufus Wainwright a cantarolar ao piano. Mas tenhamos calma. Não nos estiquemos. Porque – regressando àquele estilo pormenorizado, de que peço mais uma vez desculpa - Josh é Josh. E Rufus é Rufus. Como Ryan é, salvo indicação em contrário, Ryan. NCS

(texto publicado no último domingo em A Capital)

1 Comments:

Blogger Sumares said...

O pobre do homem já tinha o álbum feito. Só não tinha nome para o mesmo. E, num dia de regresso a casa, para uma visita à familia, ouviu o comandante do avião dizer: " landing to Nashville" e gostou. E pronto. Ficou "Nashville". Esta é a verdadeira história.

10:53 da manhã  

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