quinta-feira, março 10, 2005

os dez melhores discos do mundo #3

Joy Division – Closer (1980)


Dos discos que ouvia muito quando tinha 15, 16 anos, este, juntamente com os dos The Smiths, é aquele que mais ouço. Ouço e não encontro nada de novo, nem nada que hoje desgoste. É um dos dez melhores discos do mundo. Nesta e em qualquer outra lista que eu leve a sério. Closer é também dos discos mais duros que conheço. A música que nele está não foi feita para passar o tempo ou para o prazer. Foi para a inquietação, para nos desassossegar. Um verdadeiro soco no estômago. Nitidez foi o que MEC encontrou nos Joy Division. O disco é disso mesmo que padece: excesso de nitidez. Desde a abertura, com Atrocity Exbhition, que tem aquele ritmo quase doentio, mas sem ponto de fuga, até ao fim com Decades, tudo é sempre nítido e claro. Não trata as coisas por metáforas ou com outros nomes. Diz-nos exactamente o que elas são e como são. No meio de todo o negrume, o que há são sinais de vitalidade, de relação com as coisas cruéis.
O disco, como lembra também o MEC, tem dois lados. O CD também. As primeiras cinco músicas servem para definir o modo, o lugar exacto. A segunda metade do disco, que começa com o Heart and Soul, já revela a banda em busca de algo mais, mais perto e ao mesmo tempo procurando ultrapassar a reverência ao absoluto. Como que numa legenda à capa de Peter Saville. O branco, que no vinil ocupava uma área mais adequada, e no meio a fotografia. Uma fotografia despojada, mas sobre a morte, a dor e a solidão. Clareza, luz e os opostos. Sem meias palavras. Ao mesmo tempo, todas as dúvidas condensadas em músicas. "Existence - well what does it matter?/I exist on the best terms I can/The past is now part of my future/The present is well out of hand --/ Heart and soul - one will burn --".
Claro que há também a música. A música em si, esquecendo a palavra. Closer, e os Joy Division, têm a lógica do Punk. Melhor, tem a parte boa do que, em 1980, sobrava do Punk: a raiva, a voz dos que estão de "fora" e a simplicidade de processos. Mas a isto acrescentam a densidade que ninguém no Punk ousou (ou foi capaz) e o cantar sofrido sobre uma estrutura incatalogável e idiossincrática. Aliás, em Closer já aparecem elementos que não apareciam antes (por ex. em Unknown Pleasures) e que reapareceriam em força nos New Order (maxime os teclados), mas a imagem de marca é, era, foi, será aquela secção rítmica que soa à Joy Division. E, sobre tudo isso, a voz do mais trágico dos ícones da pop, Ian Curtis. Um rapaz suburbano, que aparentava ter acabado de chegar dos meios intelectuais da Europa central dos anos 30 e que cantava cada palavra com toda a angústia e raiva do mundo.
Além do mais, os Joy Division são mais uma boa razão para se desconfiar da sociologia. Como é que é possível que quatro rapazes duma cidade desinteressante, perdida no norte de Inglaterra, na ressaca do Punk se tenham juntado para fazer esta banda e para fazer o que esta banda fez?. Mais estranho ainda é o que os três sobreviventes fizeram depois, ao formarem os New Order, na mais improvável das transformações de sucesso da história da música - pelo meio provando que a salvação deles e a felicidade de quem os ouvia, dependia do desaparecimento de Ian Curtis. A partir daí, a redenção foi feita a dançar.
A maior parte da música decente que tem sido feita, anda a apanhar os cacos que estes rapazes deixaram. A maior parte da música que ouço serve-me também para isso. PAS



Decades

Here are the young men, a weight on their shoulders
Here are the young men - well where have they been?
We knocked on doors of Hell's darker chambers
Pushed to the limits, we dragged ourselves in

Watched from the wings as the scenes were replaying
We saw ourselves now as we never had seen
Portrayal of the traumas and degeneration
The sorrows we suffered and never were free
Where have they been --

Weary inside, now our heart's lost forever
Can't replace the fear or the thrill of the chase
These rituals showed up the door for our wanderings
Opened and shut, then slammed in our face
Where have they been --

3 Comments:

Blogger Ricardo Dias said...

Uma lista muito 80´s...!

9:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ando a pensar nisto à dias, desde quinta ou sexta feira.
É certo que não pude comparecer na festa, já sei que foi excelente, e isos deixou-me mais tempo para ouvir(várias e aborrecidas horas no automóvel) e ter a certeza.
Até limpei as orelhas com um cotonete.
E tenho de te dizer que tem de haver aí algures, num desses melhores de todos e de sempre, um album com o summer time, um sidney bechet, talvez, com a sua nostalgia, a tristeza a sacudir-se no sopro, ou uma voz femenina como a que acompanha o piano de cirus chestnut a cantar o tema.
não sendo um fanático nem obcecado com o género,impõe-se ainda a pergunta, e uma concessão mais jazzistica, não há??

12:22 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ando a pensar nisto à dias, desde quinta ou sexta feira.
É certo que não pude comparecer na festa, já sei que foi excelente, e isos deixou-me mais tempo para ouvir(várias e aborrecidas horas no automóvel) e ter a certeza.
Até limpei as orelhas com um cotonete.
E tenho de te dizer que tem de haver aí algures, num desses melhores de todos e de sempre, um album com o summer time, um sidney bechet, talvez, com a sua nostalgia, a tristeza a sacudir-se no sopro, ou uma voz femenina como a que acompanha o piano de cirus chestnut a cantar o tema.
não sendo um fanático nem obcecado com o género,impõe-se ainda a pergunta, e uma concessão mais jazzistica, não há??

12:22 da manhã  

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