quarta-feira, março 29, 2006

O Futuro da Pop




Hoje, às 18h30, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz

terça-feira, março 28, 2006

Traz um amigo que é fã dos Smiths também (PUB)



Numa altura em que o tempo primaveril começa a aterrar nas nossas vidas, eis que se começam a pôr as questões que verdadeiramente importam à humanidade. O É a Cultura, Estúpido! de Março arrisca tudo e coloca a pergunta que mais controvérsia gera hoje no mundo: qual o futuro da música pop? Uma pergunta que se desdobra noutra, por exemplo: há ainda espaço para a criatividade e a inovação ou continuamos todos a imitar os Beatles, os Talking Heads e o Clemente? Três especialistas na área estarão no terreno do Jardim de Inverno para tentar desvendar o mistério: João Lisboa (Expresso), Nuno Galopim (DN) e Mário Lopes (Público). Na moderação estará Pedro Mexia e na provocação Nuno Costa Santos. No final, haverá espaço para o stage diving e o karaoke.

Amanhã, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, às 18h30

quarta-feira, março 22, 2006

20 anos


Enquanto se espera pelo Ringleader of the Tormentors, o novo álbum de Morrissey que sai no início de Abril, o universo smithoniano vai-se entretendo com outras coisas. Há a entrevista do Douglas Coupland, mas há também um artigo do Johnny Marr no Belfast Telegraph, sobre os vinte anos do The Queen is Dead.
Fica aqui um cheirinho:
"We knew we had our best songs yet, but our way of writing had been the same as ever. "There Is A Light That Never Goes Out", "Frankly, Mr Shankly" and "I Know It's Over" were done in one evening. "Cemetery Gates" I might have got the music for the night before. I'd work on chord changes, and then Morrissey would come round to my place in Cheshire. We'd sit face to face about two feet away. I'd have an acoustic guitar and I'd be holding a recording Walkman between my knees to get a rough arrangement down. We wouldn't breathe out until I'd pressed the stop button."
não sei se repararam, "one evening". "one evening" para escrever duas das melhores músicas de sempre.
para ler inteiro, aqui.

quinta-feira, março 16, 2006

O quereres



Há dias em que esta é muito provavelmente a melhor música do mundo. Desconhecia em absoluto esta versão do Chico com o Caetano – que não me parece ser da altura do ‘Juntos e ao Vivo’. Vale a pena passar ao lado dos arranjos meio anacrónicos e que soam a muitas das coisas que o Caetano fez na primeira metade da década de oitenta e de que – heresia das heresias – tendo a não gostar muito (dos arranjos, note-se). Confesso que a dose suplementar de açúcar que a voz do Chico empresta a esta versão – por momentos meia a sorrir – reinventa-a ainda mais um pouco (se tal é possível). Um vídeo fantástico, pilhado daqui, e que merece ser visto e revisto.
(cliquem no play, depois no pause para carregar por inteiro, e só então podem ver sem quebras na reprodução)

segunda-feira, março 13, 2006

E ainda mais este

Consultas de psiquiatria



Sejamos sérios. A definição de melómano do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa é insuficiente e – bem pior do que isso – subtilmente optimista. Fala em “pessoa que tem grande paixão pela música”. Como se isso fosse uma coisa boa. E recomendável. Como se a vida do melómano não fosse uma vida de sofrimento e discriminação, sobretudo por parte dos media. O melómano é um Garcia Pereira que gosta de discos.
Aqui ficam, com o objectivo de desfazer idealismos e equívocos vários, algumas definições menos românticas. Melómano é o indivíduo que tem de subornar a empregada para que ela dê um arranjo no escritório. É a pessoa que está sempre a ouvir alguém (mesmo o tio-avô com comprovados problemas de surdez) a dizer “mete um bocadinho mais baixo, se faz favor”.
É o cidadão que, já com o orçamento nitidamente deficitário, ainda sai de casa com o propósito de comprar um disco novo. E que depois volta para casa com oito discos novos (chegou ao caixa com 15 CD’s nas mãos, mas depois teve problemas de consciência e recolocou-os melancolicamente e com alguma vergonha nas prateleiras). Melómano é, portanto, o cidadão que entra em casa com o saco da Fnac escondido dentro do casaco – e que tem de ocultar da família todos os vestígios das aquisições sonoras - preços, plásticos, etc. - em alturas de crise.
Melómano é a criatura que, sem que possa fazer nada contra isso, mais facilmente se lembra do nome do irmão do teclista suplente da sua banda favorita na adolescência do que do nome da namorada que teve na altura – e que hoje, muito provavelmente, é a sua mulher. É o personagem que, na subcategoria melómano alternativo, mostra-se capaz de falar entusiasmadamente de edições limitadas de bandas lituanas com nomes estranhíssimos como se falasse do Rodrigues dos Santos ou da última promoção do Lidl.
É o contribuinte que considera serviço público a transmissão televisiva de um documentário sobre uma altura dominada por uns sujos rapazes que não sabiam tocar e gostavam de dizer palavrões porque sim (vulgo época punk). E é o pai de família que se encontra em casa a dedilhar uma croniqueta de costumes musicais num domingo à tarde, enquanto a mulher e os filhos estão a ser felizes algures (se bem que isto também serve como definição para pessoa que deixa tudo para a última hora; ou seja, para “português”).
Sim, o Professor Daniel Sampaio tem nova companhia. A imprensa portuguesa conta com mais uma coluna sobre problemas do foro psiquiátrico.

NCS

Na Atlântico do Mês Passado

Sublimes desconhecidos



Tornou-se um inquietante e desagradável mistério constatar que no Portugal musical (jornais, revistas, rádios, saraus, spas) os My Morning Jacket quase não existem. Há um motivo não dispiciendo para este secreto sentimento de escândalo: eles são muito bons. E já o são pelo menos desde 99, ano da edição do primeiro álbum, The Tennessee Fire.
At Dawn, o segundo, foi a confirmação do talento raro destes rapazes de Louisville (Kentucky) na categoria rock-alternativo-cheio-de-influências-country-que-metem-o- -cidadão-a-pensar-na-vida. Canções como Lowdown e The Way That He Sings davam o tom de sublime e poética simplicidade (nessa altura, a marca da banda; ou melhor: a única marca da banda), sem arrojo na produção, e Bermuda Highway era a etérea balada de fazer pele de galinha num porteiro de discoteca.
Às primeiras audições, a voz de Jim faz demasiado lembrar a de Mark Koselek (sim, o anfitrião dos Red House Painters e dos Sun Kil Moon). Tem um timbre parecido. E estende-se nas músicas de uma maneira relativamente semelhante. Mas depois de se ouvir algumas vezes os discos ganha autonomia. Percebe-se que bebeu alguma coisa ali, mas voa sozinha. E de outra maneira.
Omissão inadmissível. Já vamos no quarto parágrafo de um artigo sobre os My Morning Jacket e ainda não foi convocado o nome que - como influência maior, sobretudo sob o ponto da vista da crítica - paira sobre as cabeças dos membros do grupo. Referindo-se aos primeiro discos, há quem convoque de imediato Neil Young para o rotular. E, de facto, o som de guitarra, bateria e baixo e frágil vozinha é quase sempre visitado pelo fantasma inspirador de Young. (Ainda bem que assim é, diga-se).
It Still Moves, o fôlego seguinte, já numa grande editora, é mais do mesmo com um ou outro passo em falso. Tem um óptimo começo pop-rock, de fazer bater o pé no chão - Mahgeetah -, prossegue ao melhor nível com as perfeitas Golden e I Will Sing Your Songs, mas fica prejudicado no conjunto com as arrastadas Masterplan, Easy Morning Rebel, e Run Thru, feitas de monótonas guitarradas a mais e inspiração a menos.
Em Z a cantiga é outra. Depois da saída de dois membros da confraria, a opção tomada foi a de abrir a outros universos a lista de influências. A ideia resume-se assim: quis-se manter o essencial da sonoridade, mas, em cima disso, “fazer algo que se possa dançar ou ouvir quando se regressa a casa de carro” (palavras de Jim James). E essa opção é justificada pelo próprio desta forma quase naïf: “O hip-hop e a soul estão a unir as pessoas neste momento. E eu queria incorporar isso na nossa música”.
A escolha de John Leckie, um nome maior (já trabalhou, por exemplo, com os Pink Floyd, os Stone Roses e os Radiohead) para a produção foi elemento decisivo em tudo isto. Sente-se o verniz por cima da aspereza das canções. É como se os rapazes do kentucky tivessem trocado as vestimentas campestres por sofisticadas fatiotas. O que, após algumas leituras de recensões, parece ter convencido a comunidade melómana.
O relatório dos sintomas. Wordless Chorus, a primeira, podia ser, pela leveza saltitona (toda ela teclas e bateria), a banda sonora para mais um desembarque na Lua. Jim James começa por se pronunciar sobre o que lhe vai na alma de uma forma sóbria e contida, mas, a dada altura, solta os seu angélicos dotes vocais. Até aqui o mymorningjacketiano clássico sente-se em casa. Só depois é que vêm as experiênciais vocais e a coisa se torna mais polémica – a sua voz sola em falseto à maneira de Prince, fazendo lembrar investidas semelhantes de Kurt Wagner, dos Lambchop, e o senhor Beck. Sim, matéria para dividir as nações.
It Beats 4 U é Mercury Rev anotado e recriado. Cançoneta sombria, em crescendo, marcada pela bateria e pelo baixo. Em Gideon, James é o sacerdote que interrompe a missa para recomendar: “Religion – should appeal to the hearts of the young”. What a Wonderful Man aquece o coração de quem segue a banda desde os primórdios. Esta volta à santa terrinha para em 2 minutos e 20 segundos tocar um hino à simplicidade - nas letras e no embalo arockalhado.
Off the Record, um hit à primeira audição, leva o ouvinte a comentar com a família: quem diria que, além das countrylhadas, os My Morning também andaram a ouvir Clash. Óptimo para festarolas, numa sequência que deve incluir, é claro, os Dead 60s. Termina em instrumental, a remeter para "I am the ressurection", dos Stone Roses, e a rematar em suave e psicadélico ambiente de baixo, órgão e caixa de ritmos.
Até ao final do disco, três destaques: Into the Woods, para tocar num carrossel em tarde de namoro, Knot Comes Loose, com bela melodia e instrumentação à Rufus Wainwright (fase Poses), e a última, Dondante, o regresso às sombras da segunda canção. No final de Dondante, épico e ideal para tocar em concertos ao vivo, Jim James grita: “You had me worried! So worried – that this would last/ but now I’m learning – learning that this will pass…”. Sim, o ouvinte também está em viagem. Mas, quando regressa à terra, sente falta do tempo em que a rapaziada só compunha canções simples para corações solitários.

«Z», My Morning Jacket (RCA Records, 2005)

Estranha forma de vício





Há música para dançar. Há música para chorar. Há música para andar de elevador. Há música para ter experiências espirituais ou sexuais. Etc, etc. Por isso, ao ouvir The Campfire Headphase, do duo escocês Mike Sandison e Marcus Eoin, é legítimo colocar-se a pergunta: para que serve a música dos Boards of Canada?
É que o som é híbrido. Nem emociona (directamente) nem é totalmente gélido e vazio. Numa primeira audição, está algures no meio, ainda de uma forma pouco clara. À terceira/quarta vez que roda no leitor, começam as divagações. No refastelanço da cadeira da sala, avançam-se hipóteses: podia ser a banda sonora de uma instalação minimalista. Ou, como diz um amigo em visita, a banda sonora perfeita para filmes artísticos de surf e de skate.
Especulações à parte, The Campfire headphase, o disco que na discografia do grupo se segue a Geogaddi e a Music has the Right to Children, é algo que primeiro se estranha (por não ser nem carne nem peixe). Mas que depois, apesar de não se entranhar, torna-se uma agradável obsessão, algo a que apetece voltar.
Um pouco de pós-rock, um pouco de Kraftwerk, um pouco de Air, um pouco de chillout, um pouco de Brian Eno, o têmpero de umas sampladas. Leva-se tudo ao frigorífico. E eis esta última versão dos Boards of Canada. Não, não é novo. Não, não entusiasma alguns indefectíveis e uma boa parte da crítica. Mas torna-se um vício, um vício estranho. Sobretudo a quarta, Peacock tail. Não perguntem porquê.

«The Campfire Headphase», Boards of Canada (Warp)


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Digamo-lo assim: Sheffield é a Guimarães da pop electrónica. Enquanto o resto da Inglaterra estava interessado em partir guitarras em palco e em entoar refrões primários contra tudo o que fosse autoridade, a comunidade musical da cidade (a rapaziada mais criativa e menos conformada) tocava nos botões dos sintetizadores para ver até onde iam as suas potencialidades.
Made in Sheffield, o documentário realizado por Eve Wood, pretende recuperar esse momento de afirmação musical desta cidade industrial, vivido entre o final da década de 70 e o princípio dos anos 80. Está lá - quer em imagens de arquivo quer em depoimentos - quase tudo o que é grupo de Sheffield da altura: Human League, ABC, Heaven 17, Vice Versa, Artery, Pulp e Cabaret Voltaire.
Os Cabaret Voltaire aparecem como um dos grupos mais respeitados, por terem levado a sua experimentação sonora até territórios radicais. Eram os que mais arriscavam e a sua atitude vanguardista era seguida como exemplo por bandas muito mais convencionais e bem comportadas. Martyn Whare (dos Human League e dos Heaven 17) admite a dada altura o seguinte: “Eles eram os padrinhos da cena e encorajavam a criatividade em todas as pessoas à sua volta”.
Acompanhamos desde o momento em que os Human League vão ao Top of the Pops (o vocalista Phil Oakey, um dos mais interventivos nas entrevistas, relembra a facilidade e a naturalidade com que as coisas aconteceram) até ao falhanço dos Artery, uma das grandes promessas da altura (reconhecida por John Peel), e dos Extras, a banda mais popular lá do burgo, que acabou “por passar ao lado de uma grande carreira” ao ter escolhido ir para Londres, numa altura em que a imprensa londrina está virada para o que andava a acontecer na cidade do Norte de Inglaterra.
Talvez o mais interessante de Made In Sheffield esteja justamente no facto de Eve ter optado por não excluir os losers da história – e de, ao contar a história do movimento musical de uma cidade inglesa, ter feito o retrato dos rapazes e raparigas que, um pouco por toda a Inglaterra depressiva e fabril, perseguiram – e perseguem - uma ambição no universo da música. Para bem de todos nós, pois.

DVD «Made in Sheffield - The Birth of Electronic Pop», de Eve Wood, Plexifilm


Barulheira Light



O título do álbum pode fazer lembrar a tradução do título de um disco de Clemente, mas estamos perante uma das melhores compilações lançadas em 2005 – e só recentemente encontrada nas lojas portuguesas. Prisoners of Love – a Smattering of Scintillating Senescent Songs 1985-2003, dos Yo La Tengo (“os My Bloody Valentine de New Jersey”, segundo a dona Júlia) é, além do mais, como acontece neste tipo de best of, uma excelente introdução ao trabalho da respeitadíssima e canónica banda da cena indie americana.
Não, eu não começava por Shaker e Sugarcube, demasiado Sonic Youth num registo (noisy) em que os Sonic Youth são mestres imbatíveis, por Stockholm Syndrome, toda ela Belle and Sebastian num registo (límpido) em que os Belle são referências inultrapassáveis, e por Tom Courtenay, Teenage Fanclub sem tirar nem pôr num tipo de som (lá, lá, lá) em que os Teenage são catedráticos.
Ia, por exemplo, logo para Little Eyes, para a versão de You Can Have it All, para Autumn Sweater (remixado por Kevin Shields, o géniozinho dos My Bloody), para Pablo and Andrea (com Georgia Hubley transformada numa Nico para a geração shoegazer e com uma épica e arrepiante guitarra final), para Tears Are In Your Eyes (de chorar, ponto) e para Season of the Shark, melodia ultra-cantorável em dias de melancólico sol. Porque os Yo La Tengo são muito bons e transcendentes é nesse registo levemente dopado, algures entre a barulheira das guitarras e o som de água a correr.

«Prisoners of Love»(2 CD), Yo La Tengo, Matador Records

NCS