quarta-feira, dezembro 29, 2004

a música e o surf: a mesma luta

“the surfing keeps me alive; the music keeps me grounded”
Donavon Frankenreiter






Os discos não têm necessariamente de ser muito bons para deles gostarmos. Nem muito bons, nem particularmente criativos. Nada disso é necessário. O álbum de estreia de Donavon Frankenreiter é assim. Sendo bom, não é muito bom. Sendo criativo, não traz nada de novo. Ainda assim, é uma das agradáveis surpresas de 2004 e tenho-o ouvido vezes atrás de vezes, como que para provar que gostar dos discos depende pouco da coisa em si (o que é naturalmente válido para tudo o resto). O Donavon, antes de ser músico, era, é, surfista e a música dele tresanda a surf. Um pouco como acontece com a do Jack Johnson, mas com evidente vantagem para este. É um disco no limite do meloso, do mau gosto e das piores metáforas que vêm com o surf. Mas, por isso mesmo, por estar no limite, ouve-se sem vergonha e com muito prazer. Quando não há ondas, a caminho das ondas, a pensar nas ondas. Como que para mostrar que o sujeito da epígrafe no início do post serve de modo igual nos dois casos. A música e o surf: a mesma luta. PAS


terça-feira, dezembro 21, 2004

Escolhas de 2004

Originais:

- Riot in an Empty Street, Kings of Convenience;
- Franz Ferdinand, Franz Ferdinand;
- A Ghost is Born, Wilco;
- Cinema, Rodrigo Leão;
- Voices From the Dustbowl, Fragile State.

[ainda não ouvi Abattoir Blues/Lyre of Orpheus (Nick Cave) e
A Grand Don't Come for Free (The Streets)]

Reedições:

- Singles 1965-1967 (e todo o catálogo dos London Years), Rolling Stones;
- Smile, Brian Wilson;
- Complete in a Silent Way Sessions, Miles Davis;
- Crooked Rain Crooked Rain: L.A.'s Desert Origins, Pavement;
- Rarum Xiv: Selected Recordings, Pat Metheny;
- Bridge Over Troubled Water/ Bookends/ Sounds of Silence/ Parsley, Sage, Rosemary & Thyme (revistos e ampliados), Simon & Garfunkel.

Adenda (músicas "importantes" do ano)

- Our Mutual Friend, Divine Comedy (Absent Friends)
- Slaveship, Josh Rouse (1972)
- It's Only Time, The Magnetic Fields (I)
- C'mere, Interpol, aliás, quase todas as de Antics.

ENP

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Kitchens of Distinction versus Interpol (um pouco de polémica no QF)





No outro dia, disse ao Pedro que não achava grande piada aos Interpol. Os motivos: estão muito presos a algumas bandas do pós-punk e não têm, a meu ver, aquela capacidade de recriação que ouço e identifico, por exemplo, nos Franz Ferdinand. Os Franz Ferdinand, no meio do seu conjunto de referências (A Certain Ratio, é claro), conseguem criar um som novo, original. Os Interpol, perdoem-me Pedro e Eduardo, não. Comprei "Antics" para tirar teimas. O rapaz arranjou uma nova forma de cantar e há uma doçura que não reconhecia no negrume do primeiro álbum. Mas em “Antics”, apesar da evidente qualidade de uma ou outra canção, os Interpol fazem-me recordar demasiado os bem antiguinhos Kitchens of Distinction (sobretudo na maneira de cantar) de «Love is Hell» (1989), cruzados com uns primeiros Psychedelic Furs. Conclusão: fiquei com saudades dessas distintas cozinhas e ainda mais distante deste novíssimo corpo policial. NCS

quarta-feira, dezembro 15, 2004

No comments


A religião que sigo aconselha a que qualquer referência a Leonard Cohen seja uma referência de conteúdo elogioso. Posto isto, sendo eu um ortodoxo...
Próximo!

ENP

sexta-feira, dezembro 10, 2004

A velha Europa ao encontro do Novo Mundo


Alexandra Roos, Fanfares
(brevemente no QF)
À atenção do Rui Branco

ENP

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Lhasa de Sela

.


Se vos faltavam razões para irem hoje à noite à Aula Magna, podem encontrá-las aqui. PAS

quinta-feira, dezembro 02, 2004

O carroussel



Existe um sonoro ritual sempre que aterro na casa da minha família na ilha de São Miguel: ouvir os CD’s de Jacques Brel do meu pai. Foi, aliás, com ele que aprendi a ouvir o belga doce e violento (na sua tristeza). Um homem que, lembremos, viajou de iate até às ilhas açorianas depois de ter resolvido abandonar a maresia das canções. Brel, como para tanta gente, comove-me por ser intensamente humano. Continua a ser um modelo. A sua ironia tem ternura. A sua ternura tem ironia. E a língua francesa, a mal-amada e esquecida língua francesa, de que tanto gosto, tornou-se, na voltas da sua voz, um eterno carroussel. NCS

quarta-feira, dezembro 01, 2004

70-80-2004



O último disco dos Interpol, que só agora tive oportunidade de descobrir em detalhe, é muito bom. Recupera, numa nova longitude, um certo som expressionista que ao longo das últimas três décadas tem marcado alguma da melhor música a que se usa chamar de rock: o Bowie dos anos berlinenses, ou melhor, a reinterpretação que por essa altura o Thin White Duke fez da música de outras fases da sua carreira; Peter Murphy e os subvalorizados Bauhaus que marcaram os meus anos oitenta; os Placebo, embora estes me digam bem menos que os anteriores. Se os Interpol pertencem à new-yes-and-no-wave de Nova Iorque, a sua sonoridade é bem mais europeia, ou não tivesse metade da banda nascido no velho continente, mais precisamente na nova Europa.
Ora, num disco muito bom há, normalmente, grandes canções, e este não foge à regra: Evil, o reverso da medalha de Jaqueline dos não menos estimulantes Franz Ferdinand – que arranca com um baixo intenso e o emocionante verso "Rosemary, heaven restores you in life"; Narc, com o seu epílogo onde se ouve o som áspero das guitarras a la Television; Take You on a Cruise, com Paul Banks a soar tal e qual o Bowie de Station to Station; Not Even Jail, a melhor música do disco, a destilar swing (gótico).
Guitarra, baixo, bateria e voz, ou o básico, mesmo servido por umas letras medíocres (who cares), a provar de novo as suas virtudes.
ENP

Father (mother) & son

White Light/White Heat
Pet Sounds
Vinte e muitos anos depois
Psychocandy

ENP