Ao princípio até estava a correr mal. A voz de Rufus revelava o travo desagradável que por vezes tem, o piano parecia excessivamente martelado. Mas com o passar das músicas a coisa foi melhorando bastante, ou estranhando-se menos. As músicas eram cantadas no osso, despojados dos arranjos que, principalmente em Want One, por vezes quase que deitam tudo a perder. Afinal, por detrás dos coros gongóricos, das cordas que chegam a lembrar o sinfonismo dos Queen, estava uma mão-cheia (duas até) de excelentes canções. Só com o piano ou só com a guitarra – e muito conversador entre as músicas, com ironia e boa disposição – Rufus foi revelando o melhor de si. Ainda que o público estivesse conquistado à partida, com direito a palminhas a marcar compassos que não eram desejados, a verdade é que fazer aquele concerto não deixa de ser um acto de coragem. Tocou quase tudo o que esperávamos que tocasse, mas para o fim ficou o melhor. Cinco minutos que prolongados fariam do concerto de Rufus um concerto inesquecível. De guitarra em punho. Uma perna ligeiramente à frente, pose de “rock star”, Rufus, no segundo ou terceiro encore, que quase parecia fora de programa (seria?), não ensaiado, avança para uma versão arrebatadora, sem chão, de “Go or Go Ahead”. A Aula Magna em silêncio e, no meio do silêncio, quando num desespero empolgado, Rufus arriscava o refrão, “look in her eyes”, que no original tem uma espessa camada de coros femininos que ficou provado é desnecessária, parecia que afinal ali estava mesmo o tão (auto)proclamado “wonder boy”. Quem consegue cantar uma música, nem que seja apenas uma música, daquele modo, poderá ser outra coisa?
PAS