quarta-feira, setembro 28, 2005

Vida musical

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NCS

segunda-feira, setembro 26, 2005

A luz, a luz



Por vezes acontece: sem sabermos bem porquê vamo-nos afastando de um grupo ou um grupo vai-se afastando de nós. Aconteceu-me com os Cowboy Junkies. Fui arrebatado por The Trinity Session no final dos anos oitenta; quando saiu Caution Horses já achava que Margo Timmins estava a cantar só para mim e na altura em que cantavam Horse in the Country, ainda os seguia muito atentamente (julgo que terá sido aí por 1992, mas posso estar errado). Depois, o tempo foi passando e deixei de estar lá para os continuar a ouvir (ou se calhar a culpa foi mesmo deles, que se foram tornado menos interessantes).
No entanto, podemos, por vezes, regressar aos prazeres do passado. Há tempos, peguei, por acaso, num disco deles – One Soul Now. Um disco que, aliás, revelou-se pouco entusiasmante. Mas o disco vinha com um EP, de cinco covers (entre os quais, Helpless e 17 Seconds). Na loja, foi o EP que pedi para ouvir. Os primeiros minutos da primeira música bastaram. Um cover de Thunder Road que fazia com a música de Springsteen o mesmo que haviam feito a Sweet Jane. Baralhavam, davam de novo e a consequência foi cinco minutos igualmente arrepiantes. Estava refeita a relação. De novo, do meio de uma música que aparentava negritude vinha a luz. Os Cowboy Junkies são isso mesmo: escuros, distantes, mas depois têm a voz de Margo para contrariar com luminosidade o resto.
O entusiasmo recuperado foi entretanto reforçado por dois factos: um disco de covers que entretanto saíu e que confirma que são muito provavelmente a melhor banda do mundo a apropriar-se do trabalho dos outros e um excelente DVD – long journey home – de um concerto o ano passado em Liverpool. Duas horas em que o que se vê é uma banda quase paralisada, escondida em palco, mas tocando uma música que é mais densa do que no passado mas que ainda assim (essencialmente nos temas mais antigos) tem invariavelmente na pureza a maior das suas fontes de energia. E, claro, no meio daquela escuridão toda, surge, outra vez, Margo Timmins iluminada, como numa aparição. Para além de que, hoje, o que era fragilidade tem também uma maturidade que reconforta e recorda que não estava errado quando, no passado, me deixei arrebatar.
Há, no entanto, sempre outro lado. No DVD são os extras, com entrevistas onde os irmãos Timmins se revelam de bem com a vida, alegres, afáveis e contrariam a imagem que dão em palco e na música. Afinal, a luz é trazida por todos. PAS

Cbb

Pois, pois, Ricardo. Estamos em mudanças. E as mudanças, já falámos disso, são tramadas. Lixam-nos os hábitos – os hábitos melómanos, por exemplo. Um drama que se pode resumir nesta pergunta: onde é que se meteu a discalhada que interessa? Ou então nesta: quando é que o computador deixa de estar suspenso nesta cómoda transformada à força em mesa (enquanto não há quem venha montar os móveis do Ikea)?
Há coisas boas, como a de ser levado a ouvir discos que seria menos provável escutar. Por exemplo, estou a escrever estas linhinhas sob a serena inventividade jazzy de «Midnight Sound», dos Flanger - um disco que é propriedade do senhor Cristóvão Gomes e que descansava nos meus antigos aposentos em parte relativamente incerta.
(Cbb - estas três letras foram marteladas pelo meu filhote, acabado de invadir o escritório e de cumprir o ritual diário de dar uma porrada no teclado. Podia ser Jss, Kll, Opp. Mas não. Foi Cbb. Foi essa mensagem que o puto quis passar. Perceba quem tiver estudos para isso).
O pior é mesmo o clássico problema da desorganização. Não daquela desorganização que a gente controla. A desorganização levada ao extremo. A desorganização mais desorganizada do que nós. A desorganização de quem ainda não domina o espaço e tem os discos em novos recantos, envolvidos em poeiras desconhecidas. Isso custa. Pa caraças.
Há dias que ando para escrevinhar uma posta sobre o disco dos Magic Numbers (fixe, bem fixe; Love´s a Game – a primeira que ouvi, aquela de que ainda gosto mais), o disco do Andrew Bird (bom gosto, belíssimos arranjos), o disco dos Boozoo Bajou (uma seca, sem acrescentar nada ao mundo no género), o disco do Matt Elliot (sublimemente triste, de levar ao suicídio; portanto, não ouvir nestes deprimentes dias de campanha para as autárquicas), o disco dos Architecture in Helsinki (porreiríssimo o experimentalismo afectuoso destes arquitectos australianos; Wishbone, Do The Whirlwind e What's In Store? são das sobremesas que me têm sabido melhor nos últimos tempos) e o disco do Common (que o meu cunhado levou para ouvir no carro e ainda não trouxe de volta).
Já não para falar do disco dos blurianos e smithsianos Dears - que também fizeram o meu Verão e que felizmente agora revejo neste episódio detectivesco do nosso Quase Famosos. É um bom reencontro. Tenho saudades. Há várias semanas que não sei do gajo. NCS

segunda-feira, setembro 19, 2005

O seu a seu dono

No bombix mori – um blog onde a música é sempre bem tratada –, o Afonso põe a tocar I Feel Love. Engana-se, porém, quando atribui a autoria da coisa a Dona Summer. I Feel Love foi (como no mesmo bombix é lembrado através das palavras de Iggy Pop) o futuro da música pop. Um futuro que por ora se mantém presente. Mas se a voz que se ouve pertence à Senhora D. Summer, tudo o que por trás dela se passa nasceu da cabeça de um italiano que responde pelo nome de Giorgio Moroder.
Um dia, todas as tribos da pop dançante do final de milénio ainda se irão juntar e agradecer penhoradas a quem lhes abriu as portas do futuro. ENP

Amigos em Portugal



Tinha o álbum numa cassete. Agora tenho-o em CD - numa reedição deste ano. Neste momento está a tocar o quarto tema: "Sara e Tristana" (Esteves Cardoso, pois). NCS

sexta-feira, setembro 16, 2005

In the beginning there was Scratching

Como diria Margarida Rebelo Pinto, não há coincidências. Em 1979, ano em que morria Sid Vicious, Joe e Sylvia Robinson, dois experientes produtores discográficos, resolveram fundar a Sugar Hill Records. Perguntar-me-ão o que é que uma coisa tem a ver com a outra. E eu responderei: aparentemente, nada.

A História – a que interessa – começou no Verão seguinte, quando Sylvia, ao parar numa pizzaria de Englewood, NJ, escutou as palavras debitadas por um tal de Henry Jackson e, encantada com aquilo que ouviu, decidiu fazer um disco de rap. Para tal, a antiga cantora soul/funk, reuniu o dito Jackson – entretanto rebaptizado de Big Bank Hank – com Wonder Mike e Master Gee. Os três formaram o Sugarhill Gang que, sobre a linha de baixo do clássico disco dos Chic – Good Times –, criou aquela que é muito justamente considerada a opus 1 do hip-hop.

“I said a hip hop, the hippie, the hippie to the hip hip hop, a you don’t stop (…)”, é com estas palavras fundadoras e proféticas que Rapper’s Delight abre. O single, cuja versão original ultrapassa os 14 minutos, vendeu para lá de dois milhões de exemplares à volta do mundo e moldou o estilo daquela que viria a ser chamada de Old School.

Quando se ouve falar na Sugar Hill Records, pensa-se automaticamente em hip-hop, em breakdance e numa retoma da consciência social por parte da população negra das grandes cidades americanas. E pensa-se muito bem. A editora, graças ao estrondoso êxito de Rapper’s Delight, acabou por ser a primeira e principal rampa de lançamento deste estilo que tanto e tão bem marcou a música pop na viragem da década de setenta para os anos 80 de Reagan. Um rap cru, para ser tocado, ouvido e dançado nas ruas. Um rap onde o scratching é preponderante, ou não tivesse sido o gira-discos o seu primeiro instrumento. Um rap que, de forma velada, sob um groove carregado de boa disposição, começou a introduzir referências à severidade da vida no gueto e ao desagrado dos que lá têm de viver, o qual, anos depois, com os Public Enemy, ganharia contornos de revolta.

Até meados dos anos 80, a Sugar Hill foi editando regularmente e marcando a agenda rap. Ao Rapper’s Delight dos Sugarhill Gang (que apesar do sucesso cedo se eclipsaram), seguiram-se outros temas, quase sempre em edições de 12 polegadas, hoje clássicos indiscutíveis: Monter Jam (1980) de Spoonie Gee; Suspicious Minds (1981) de Candi Stanton; Breakdance/Electric Boogie (1982) dos West Street Mob; e sobretudo The Message (1982) e White Lines (1983) de Grandmaster Flash, com ou sem The Furious Five. Porém, a meio da década, começaram a surgir problemas financeiros decorrentes da saída dos seus principais artistas, ao mesmo tempo que uma nova escola, liderada pelos Run DMC, emergia e dava início à chamada Golden Age. Em 1986, a Sugar Hill fechou portas. Mas o hip-hop – quiçá a mais importante revolução na pop desde o encontro entre Malcolm McLaren e Sid Vicious – tinha vindo para durar. ENP

(publicado no suplemento SARL do Jornal dos Açores)

quinta-feira, setembro 15, 2005

Acham que vale a pena viver o Verão até ao fim e precisam de um disco para isso?


"Sing Along With Acid", dos Acid House Kings. NCS

sexta-feira, setembro 09, 2005

visita diária.

terça-feira, setembro 06, 2005

Casa nova, discos antigos



Tiveram a desonra de ser os primeiros a entrar na minha nova morada: a reedição em vinil de Standing on the Beach - a clássica colectânea dos Cure - e Bump City - uma potente funkalhada branca dos Tower of Power, grupo californiano criado no final dos anos 60 (e ainda activo) que merecia maior e melhor atenção. Primeira música ouvida: Broken English de Marianne Faithfull, por o disco homónimo de onde consta ter sido o primeiro a sair dos caixotes. O primeiro disco escutado do princípio ao fim sem interrupções: Bossanova dos Pixies, porque sim.


ENP