Não tenho uma relação de posse com os discos. Gosto que me levem a discalhada – já emprestei CD’s quase sem os ouvir – e gosto de chegar às prateleiras alheias e abusar nas escolhas. Fica já o aviso: nunca me emprestem coisas. Tenho o terrível vício de levar anos (às vezes décadas) a devolver o que me emprestam. (Esqueçam, não vos vou falar de uma namorada que, em 86, pedi emprestada a um tipo que estava a passar na rua). Na sequência de ser alvo de vasta chacota e de um conjunto de difamadores ter sugerido que entre mim e o Vale e Azevedo há uma leve semelhança, resolvi empilhar os discos – e os livros, as arcas frigoríficas e as perucas - que tenho de devolver à procedência.
Aqui estão alguns desses objectos «furtados»:
- «Mahogany Brown» , de Moodymann (sim, João, sou eu que o tenho; aliás, acabo de o ouvir e fico aliviado por saber que a tua vida não teria sido muito diferente se tivesses ficado com este inofensivo disco de Soft-House-Lux-Bar-Lá-de-Cima em casa).
- «The Evening Visits...», The Apartments (sim, Cristóvão, escusas de virar a casa do avesso e de chamares nomes à empregada; não é ela que está a ouvir esse fabuloso disco de uma das raras bandas australianas que conseguem fazer frente aos Go-Betweens - sim, ainda há os Triffids e os míticos Cangurus Atómicos).
- «Drift», The Apartments (sim, Cristóvão, se me devolveres os discos que te emprestei o ano passado e dos quais já não me lembro o nome, poderás voltar a ouvir este disquinho que - por acaso - ainda te pertence).
- «A Ópera Mágica do Cantor Maldito», de Fausto (como eu te percebo, Nuno, ao quereres ver-te livre desta chatice pegada que faz termos saudades dos melhores momentos de «Por Este Rio Acima»).
NCS