quinta-feira, junho 30, 2005
quarta-feira, junho 29, 2005
Ainda a Escócia no centro do mundo
Dão-se alvíssaras a quem identificar o fotografado (ou uma cerveja grátis na Festa do Quase Famosos). PAS
do entrismo
Queria só chamar a vossa atenção para o facto singelo do Billy "Red" Bragg estar a tocar desde ontem no Acidental. Ainda os vamos ver a vociferar "CGTP-in, unidade sindical".PAS
terça-feira, junho 28, 2005
Uma grandessíssima banda
«O cantor deles é um tipo que escreve letras muito apuradas, corrosivas sem nunca cair no cinismo, histórias e situações encenadas com grande inteligência – o que ultimamente é muito raro em Inglaterra. Tenho imensa inveja desse sentido inato da melodia que têm os Belle and Sebastian, ou que tinham os Monkees, essa maneira fenomenal de encadear as notas de tal forma que nunca conseguimos dissociá-las», Mark Eitzel
(citação roubada a um artigo antigo do Cristóvão Gomes - da altura em que ele ainda escrevia sobre música; lembram-se? - sobre If You’re Feeling Sinister)
Há aí uns tipos que dizem que os Belle and Sebastian são um grupo para assexuados - a puxar assim para o mariconço. Mais: há aí uma malta a gritar ao mundo a sua virilidade musical, afirmando que os Belle and Sebastian são musiquinha para gente que acha que sexo é ler um poema de Keats debaixo de uma árvore afeminada (habitada por uma colectividade de pássaros travestis).
Há aí uns artistas a sublinhar que os Belle and Sebastian são uma fraude. Que, em termos musicais, não valem um caracol (neste caso, um caracol gay). Pois bem, eu acho que tudo isso é verdade. E até digo mais: é por isso que gosto tanto deles. (E é por isso também que a minha mulher e o meu filho estão aqui ao pé do computador a olhar para mim com um ar algo angustiado).
(Calma, já vou retirar algumas das palavras que escrevi acima. Só queria ter o prazer de começar a crónica desta maneira. Antes de mais, vou retirar a palavra ‘malta’; já não se usa e, afinal de contas, isto não é uma recensão sobre o último concerto do Janita).
Depois do capricho, sejamos, então, directos - e científicos – nisto. Sejamos até um bocadinho violentos (faz falta de vez em quando uma certa rudeza melómana). Os Belle and Sebastian são uma grandessíssima banda. Ou foram uma das melhores bandas que andaram por aí (os últimos álbuns são francamente uma desilusão).
O argumento para defender a tese é tão somente este: não é qualquer bandeca que é capaz de compor um tema tão sublime e eterno como A Century of Fakers, incluído em Push Barman to Open Old Wounds - a recém-saída compilação de EP’s do grupo. Desprezar uma canção como A Century of Fakers – reduzi-la a nada – é inclusive da ordem da tolice. Estou tão seguro disto que até vou mais longe: não entender que Century of Fakers é uma cançoneta do caraças (em qualquer investida pela História dos territórios indie) é não perceber uma lesma (uma lesma hetero, ok) de música.
Não me fico por aqui. E Lazy Line Painter Jane? E The State I Am In? E Belle and Sebastian? E – talvez sobretudo – Put the Book Back on the Shelf?(só para falar no primeiro disco da compilação). Admito que se possa não gostar da estética frágil-literária-campestre (e que se queira partir a cara aos meninos por causa disso). Mas esse impulso inteiramente legítimo não devia - entre gente musicalmente instruída - ser transformado numa espécie de desatenção militantemente totó à qualidade melódica (e de letras) superior da coisa.
Do segundo disco destacam-se (como verdadeiras papoilas saltitantes) Slow Graffiti, Winter Wooskie e Take Your Carriage clock and Shove It. Mas prefiro passar a tarde a ouvir - em loop - um clássico (quase todos os temas são clássicos, mas há uns mais apurados do que outros) chamado This is Just a Modern Rock Song. Um tratado sobre a arte de escrever canções. Canções simples. Quanto mais simples, melhor. Sem qualquer tipo de heroísmos pelo meio, por favor. NCS
(texto publicado no jornal A Capital)
Reacção à reacção
Sem saber ler nem escrever, fui, sem consulta prévia, colateralmente envolvido nas actividades da reacção. Protesto e resisto.PAS
(...)Then raise the scarlet standard high
Beneath its folds we'll live and die
Though cowards flinch and traitors sneer
We'll keep the red flag flying here(...)
Billy Bragg, The Red Flag
segunda-feira, junho 27, 2005
Suor sem sangue e lágrimas
Não sei o que é que vocês andam a ouvir, mas eu escolhi "Jump Leads", dos Fila Brazillia (que belo disquito este, saído em 2002), para me fazer companhia na operação de mudar de t-shirt umas 24 vezes por dia. NCS
sexta-feira, junho 24, 2005
Cubos estranhamente religiosos
Aqui vai a minha contribuição, Pedro. Um abraço. NCS
"Deus", The Sugarcubes
Björk
Deus does not exit.
But if he does, he lives in the sky above me,
In the fattest largest cloud up there.
He's whiter than white and cleaner then clean.
He wants to reach me.
Deus does not exist.
But if he does I always notice him.
Getting ready in his airy room.
He's picking his gloves so gently off.
He wants to touch me.
I'm walking humbly down a tiny street
Pulling my collar it gets bigger, woooh
Einar
I once met him,
It really surprised me,
He put me in a bath tub,
Made me squeeky clean,
Really clean.
Björk
To create a universe
You must taste
The forbidden fruit.
Einar
He said hi. I said hi,
I was still clean.
Björk
Deus does not exist,
But if he does he'd want to get down from that cloud,
First marzipan fingers then marble hands,
More silent than silence and slower than slow,
Diving towards me.
My collar is huge room for two hands,
They start at the chest and move slowly down.
Einar
I thought I had seen everything,
He wasn't white and fluffy,
He just had side burns,
He just had side burns,
And a quiff,
He said hi.
I said hi. I was still clean,
I was squeeky clean.
I was surprised.
Just as you would be.
Einar & Björk
Deus, Deus, Deus, Deus
Björk
He does not exist
( Repeat 'til the end )
Art Brut (que não conhecia e que passei a querer conhecer ao pormenor)
O Miguel anda a rodar muito boa música. Ora, ouçam o temazinho que ele tem desta vez na secção "Play it, Sam". NCS
quinta-feira, junho 23, 2005
Super-Heróis
Just for the record. 5/6 dos quase famosos cruzaram-se hoje, em plena Avenida da Liberdade, depois de almoço, com este senhor. A tendência Gallagher revelou-se relativamente indiferente. O costume. Uma tristeza. Não tarda há cisão no blog. PAS
quarta-feira, junho 22, 2005
New FADs
A percussão e a baixada dos LCD deram-me vontade de voltar a ouvir estes ilustres manchesterianos quase desconhecidos (quem quiser e não tiver tanto calor assim, que partilhe comigo lágrimas e histórias sobre os New FADs; obrigados). NCS
Quatro notas gratuitas sobre o concerto de ontem
- Gostei.
- Cuidado, ó LCD Soundsystem. Vocês também têm a vossa Yoko Ono.
- Pelo crescendo da percussão, estava à espera que, a qualquer momento, aparecessem em palco os Tocá Rufar.
- As pessoas que estavam lá em cima, nas laterais, devem, segundo um amigo, ter recebido aqueles convites das empresas. Pareciam mesmo, pela sua solene rigidez (cá em baixo, havia saltos e gritos e fins de namoros), funcionários de uma seguradora. NCS
“I was there”
O disco é daqueles que entusiasma ao início, mas que depois fica para um canto e não se ouve mais. Mas isso é o disco. Ao vivo a história é outra e nos concertos o que se passa é mesmo História. Ontem no Lux, condensado numa hora, assistiu-se a uma breve antologia de toda a música feita nas últimas décadas (pronto, quase toda) – o “I was there”, mesmo não se tendo estado, do “Loosing my edge”. É isso que os LCD fazem: juntam citações. E o estranho é que não soa a pastiche. Pelo contrário, a coisa entusiasma, a malta dança muito e, acima de tudo, fica com uma inveja do caraças. Eu, quando for novo, quero estar em cima de um palco a obrigar as pessoas a ouvirem as músicas de que gosto e que ouço em casa. Se, para além do mais, as conseguir juntar todas e rescrevê-las, melhor ainda. A vida pode ser do caraças: o James Murphy, que é um rapaz já entradote mas que se comporta, e bem, como um adolescente, que o diga. Esta noite, há mais no Lux. Mas a ideia que com que fiquei é que a esta hora, pelo menos o baterista ainda está a tocar, num ritmo estupidamente quadro e igualmente frenético que ainda soa na minha cabeça.
Todos os discos, todos os instrumentos e, ainda assim, ficamos sem saber o que queremos realmente. Tudo? PAS
(...)
But I'm losing my edge to better-looking people with better ideas and more talent.
And they're actually really, really nice.
I'm losing my edge.
I heard you have a compilation of every good song ever done by anybody. Every great song by the Beach Boys. All the underground hits. All the Modern Lovers tracks. I heard you have a vinyl of every Niagra record on German import. I heard that you have a white label of every seminal Detroit techno hit - 1985, '86, '87. I heard that you have a CD compilation of every good '60s cut and another box set from the '70s.
I hear you're buying a synthesizer and an arpeggiator and are throwing your computer out the window because you want to make something real. You want to make a Yaz record.
I hear that you and your band have sold your guitars and bought turntables.
I hear that you and your band have sold your turntables and bought guitars.
I hear everybody that you know is more relevant than everybody that I know.
But have you seen my records? This Heat, Pere Ubu, Outsiders, Nation of Ulysses, Mars, The Trojans, The Black Dice, Todd Terry, the Germs, Section 25, Althea and Donna, Sexual Harrassment, a-ha, Pere Ubu, Dorothy Ashby, PIL, the Fania All-Stars, the Bar-Kays, the Human League, the Normal, Lou Reed, Scott Walker, Monks, Niagra,
Joy Division, Lower 48, the Association, Sun Ra,
Scientists, Royal Trux, 10cc,
Eric B. and Rakim, Index, Basic Channel, Soulsonic Force ("just hit me"!), Juan Atkins, David Axelrod, Electric Prunes, Gil! Scott! Heron!, the Slits, Faust, Mantronix, Pharaoh Sanders and the Fire Engines, the Swans, the Soft Cell, the Sonics, the Sonics, the Sonics, the Sonics.
You don't know what you really want.
terça-feira, junho 21, 2005
LCD is playing at my house
um interlúdio na dinâmica religiosa que se tem tornado hegemónica, logo à noite e amanhã, no Lux. PAS
Godspel
1979. Enquanto Londres e Nova Iorque eram varridas pela (nova) vaga do pós-punk, no Alabama, Bob Dylan convertia-se ao cristianismo e gravava Slow Train Coming. As constantes referências bíblicas terão chocado alguns fãs menos exigentes. Mas, com o passar do tempo, também estes haveriam de perdoá-lo.
Deste disco (há muito no meu Dylan top five) sugiro-te duas: Man Gave Names to All the Animals e Gotta Serve Somebody.
ENP
Arrastão sonoro
Vamos aos factos. Há uns meses atrás, num conspurcado posto de escuta da FNAC, dei uma brevíssima ouvidela no disco dos rapazolas. Provavelmente estava com fome, frio, sono, rinite, comichão nas gengivas ou com medo de me cruzar com o Fernando Aguiar. Não, não apercebi da força e do talento que havia ali dentro. E, enquanto erguia a bica cheia, comentei isso lá no café do bairro. De dedo mindinho apontado às estrelas, pois.
Só no outro dia fui finalmente convocado pela mais cristalina das evidências. Recupero aqui o poético momento: estava a cruzar uma esquina, com a mão direita na algibeira, a mão esquerda a segurar o 24 Horas e o pensamento em Kierkegaard, quando fui abalroado pelo volumoso corpanzil da dona Lubélia. Logo que caí redondo na calçada, a dona enfiou-me uns headphones nos ouvidos. Foram três horas ali no chão a ouvir o disco. Que acabaram quando descolei o post-it que tinha colado na testa: «Toma lá cuidado antes de falares! Ass: Clube de Fãs dos Bloc Party da Junta de Freguesia da Pena». (Já não me acontecia uma destas desde que a minha casa foi alvo de uma destrutiva investida pelo Clube de Arrumadores Fanáticos da Björk).
Do que mais gosto em Silent Alarm é justamente daquilo de que não apercebi numa ligeira audição – uma energia rara. Uma energia vulcânica. Imprimida, antes de mais, pelo frenesi da bateria. Depois há o vocalista. A voz do vocalista negro (coisa rara neste tipo de bandas e de música), a fazer lembrar ora o primeiro Robert Smith ora o Damon Albarn na sua versão mais rockeira. Apesar disso, fulgurante e original.
Vamos lá a ser claros: os Bloc Party entram nas nossas melancólicas vidinhas e levam tudo consigo. Silent Alarm é, na verdade, um arrastão sonoro. Um tipo ouve aquilo e sente os órgãos todos a mexer. A serem levados. Arrisco: é o som que vai marcar as festas indie deste Verão – que terão lugar, como não pode deixar de ser, um pouco por todo o mundo, em lugares subterrâneos e urbano-depressivos. Com charros do Dubai a passar de mão e mão.
Há aqui uma generosa e despudorada dose de vertigem adolescente. O que pode tornar ainda mais viciante o disco para quem já se instalou na casa dos trinta e dos quarenta. Dá logo vontade de dançar. De fazer sapateado. Coreografias epilépticas. De ir para o meio da pista abanar o pâncreas. Enquanto a filharada toda se esconde, cheia de vergonha, atrás das colunas.
Desçamos ao concreto. A sequência inicial - Like Eating Glass; Helicopter; Positive Tension; Banquet – é poderosíssima (Banquet é a música que mais quero passar na próxima festarola que organizar com amigos; umas três vezes, no mínimo). É mesmo o melhor disto tudo. Uma nota mais: a sétima, This Modern Love, no início, faz lembrar imenso os Cure de A Forest. Mas depois transforma-se em Ride puro. Sobretudo nas vozinhas frágeis a fazer coro. Sinal de que esta malta andou a estudar algumas das mais sublimes guitarradas indie do início dos 90. «Ah meus lindos meninos», diz, lírica e enternecida, a dona Lubélia. NCS
(texto publicado em A Capital)
sexta-feira, junho 17, 2005
quarta-feira, junho 15, 2005
Os Blog Party
Na próxima festa do blog (como é que é, vamos marcar isso?) vou passar esta rapaziada. Ai vou, vou. NCS
segunda-feira, junho 13, 2005
Dois bebés melómanos
Sim, continuo numa linha de DJ de autoestrada. Na última edição da croniqueta, falei-vos sobre isso de ouvir um disquito de rap tuga no descapotável de um amigo. Esta semana escrevo sobre isso de escolher música para consumir durante uma viagem familiar entre Lisboa e o Alentejo. (Para a semana provavelmente escreverei sobre isso de ser despedido da coluna musical de Domingo desta prestigiada publicação).
Ora, alinhemos sobre a página o cenário e os protagonistas. Sou eu que conduzo a carripana durante o périplo em direcção a umas mini férias em família na pousada de Marvão. Dentro do veículo, para além da minha melancólica carcaça, estão a minha mulher, a minha irmã, o meu avô e dois ouvintes exigentes: o meu filho (de 9 meses) e a minha sobrinha (de ano e meio).
Esqueçamos, por uns momentos, os primeiros personagens da história. Concentremo-nos nos bebés. Antes de mais, convém dizer que estamos na presença de dois melómanos incuráveis. De malta que deve ter mais informação musical do que o Augusto M. Seabra, o João Lisboa e o Nuno Rogeiro (a julgar pelas notas na Sábado) juntos. Ou seja: não vale a pena pôr a tocar uma daquelas compilações de música melosa para crianças que se vendem nos hipermercados. Levamos logo com uma data de fraldas usadas nas orelhas.
Comecei a viagem com Reveries, de Paulo Conte, sobre o qual ainda irei escrever um dia (quando tiver caparro emocional para isso). O pessoal não se manifestou verbalmente sobre a escolha. O único sinal em que reparei – quando, de forma discreta, olhei pelo espelho – foi no meu filho a meter a mão debaixo do queixo para pensar na vida. Isso preocupou-me bastante. Não quero poetas lá em casa.
Ainda tentei cortar o ambiente lírico-infantil, pondo a tocar os LCD Soundsystem, mas os dois começaram imediatamente a chorar baba e ranho (e outros materiais que só se podem conhecer nos artigos da Pais e Filhos). Acalmei o ambiente com o EP 3..6..9 Seconds of Light, dos Belle & Sebastian. Remédio santo. Os primos levantaram no ar as caixas de dodots e até cantarolaram juntos os refrões.
Logo a seguir, quiseram mostrar ao mundo dos adultos que não vão em modas e modernices. Lançaram-se numa gritaria medonha na altura em fiz uma sequência que envolvia os Bloc Party e os Kaiser Chiefs. “Já não bastava o teu pai ter aquela panca irritante dos Franz...“, comentou a minha sobrinha com o meu filho - enquanto eu, meio atrapalhado, tentava escolher o biberon musical que aquietasse as duas almas.
Não convinha arriscar. Fui logo a um clássico. Ou a um disco de um clássico. A Music of My Mind, de Stevie Wonder (numa reedição já deste século). “O homenzinho do 'Eu Só Te Mandei um SMS para Te Dizer que Te Amo?'”. Sim, os putos primeiro torceram o nariz. Ameaçaram sair do carro em andamento. Mais: ameaçaram fazer queixa às autoridades (no caso, a minha mulher e a minha irmã), mas depois, pouco a pouco, foram soltando sorrisinhos desdentados de satisfação.
Quando chegou a quinta musiqueta do álbum, Happier Than the Morning Sun, já estavam os dois em alegre ressono. Prova de que, dessa vez, o condutor/DJ tinha acertado na escolha. NCS
(texto anteriormente publicado em A Capital)
Vão dar uma curva
Cada música tem o seu espaço próprio de audição. Beck é para ouvir no i-pod, enquanto se desce a Morais Soares. Robbie Williams é para ouvir no Holmes Place da avenida da Liberdade. Richard Clayderman é para ouvir nos lavabos de um centro comercial em Corroios.
Há música que se só deve ouvir no carro. Quer dizer, pode-se ouvir no duche, na cozinha ou numa sauna gay – mas não tem a mesma força, o mesmo efeito. O álbum Nação Hip-Hop 2005 é para ouvir no carro. De preferência, num descapotável.
É claro que, apesar de estar a generalizar que nem um intelectual cheio de certezas na pastinha, falo sobretudo por mim. O ponto é: eu ouvi-o num descapotável (o do meu amigo Borges) e gostei. Mesmo que o ouça em casa – e tem acontecido nestes últimos dois dias – imagino que estou a dar umas voltas no trânsito da cidade.
Por exemplo, agora que estou a ouvir Pela Arte, dos NBC, não estou em frente ao computador no quarto andar sem elevador de um prédio da Estefânia. Não. Fecho o olho direito e estou a atravessar a avenida do Aeroporto, em direcção ao Relógio, no carro do meu amigo. Abanamos a cachimónia. Os nosso cabelos estão um pouco menos discretos do que o cabelo da Wanda Stuart. E, apesar de parecermos gangsters (de trazer por casa, mas gangsters), ainda não fomos mandados parar pela polícia.
Queria dizer-vos, em jeito de nota explicativa introdutória, que a minha relação com o rap nasceu com gente como Ice-T, Public Enemy, De La Soul e – depois - MC Solar. E que considero que o rap português, por aquilo que tenho ouvido, está a safar-se muito bem; aliás, bastante melhor do que muitas das redundâncias no género que nos chegam lá das Américas.
Comecemos pelas críticas. Nem tudo é delicioso em Nação Hip-Hop 2005. Há alguns refrões chatinhos, algumas letras primárias e algumas vozes irritantes (as femininas de Talento Clandestino, de Dealema, por exemplo). Mas o saldo é positivíssimo. Pela quantidade de rapalhadas inspiradas aqui presentes: Conhecimento, de Xeg; Bazamos ou Ficamos?, dos Mind da Gap (óptima para a dança gingona); B.I., de Sam the Kid; Cor de Laranja, de ACE; ou Pela Arte, dos NBC.
O melhor momento do álbum está em Sente o Calor, de D-Mars c/ Melo D e Carla M. Pela originalidade. Pelo ambiente dark e underground que a atravessa. Pelo cruzamento feliz das vozes do vocalista dos Micro, do rapaz Melo e da Carlinha. É a música ideal para passar às 4h37 na festarola de uma cave qualquer.
Nota final para Fim da Ditadura, de Valete. Lembro-me da primeira vez que a ouvi. Foi na Antena 3, durante uma viagem de carro para Sintra. Não, não acreditava no que estava a ouvir. A letra é tão violenta – e tão visceralmente anti-americana – que impressiona até o Hulk que há em cada um de nós. Mas a verdade é que não se pode deixar de reconhecer que é um tema potente. Poderoso. E que isto do rap nada tem a ver com o verbo concordar.
Agora vão mas é dar uma curva – que o disco bem o merece. NCS
(texto anteriormente publicado em A Capital)
A vida para lá do déficit
Em contrapartida, Cristovão, este continua a ouvir-se tão bem como da primeira vez.
(melhor que Smiths)
ENP
(melhor que Smiths)
ENP
quarta-feira, junho 01, 2005
O milagre da multiplicação
Hoje somos seis. Com especialistas destes, quem sabe se amanhã não seremos sete.